São Paulo, quarta-feira, 22 de abril de 1998
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Fiaminghi colhe cores nas ruas para plantar nas telas

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Todo dia o desafio de Hermelindo Fiaminghi é o mesmo: colher cores na rua e plantá-las com tintas em suas telas.
Aos 77 anos, o artista faz todas as etapas da sua lavoura. "Preparo o chassis (quadro que sustenta a tela), a tela, a têmpera, o óleo", diz, com voz grave e gestos contidos.
Até mesmo o conceito central da exposição que o artista apresenta a partir de amanhã na galeria Nara Roesler é de sua própria lavra.
Foi Fiaminghi quem fertilizou o termo "CorLuz", que serve como título de sua mostra e de cada uma das 20 pinturas nela expostas.
Na visão "fiaminghiana", literalmente na visão, a questão principal da pintura é a relação entre uma e outra cor e o efeito que causa nelas a luz do sol.
A "CorLuz" , objeto de pesquisa do artista há 30 anos, desde que ele começou a aprender a usar a têmpera com seu amigo Alfredo Volpi (1896-1988), não pode ser captada na incidência do sol na paisagem, mas nos efeitos dessa incidência em cores da paisagem .
Descontente em explicar apenas com palavras, Fiaminghi caminha até a porta da galeria e mostra uma parede de azul intenso do outro lado da rua. Em primeiro plano, há uma árvore, com as folhas verdes banhadas de sol. "A "CorLuz' é a luminosidade que tem esse azul em relação ao verde. Não é a iluminação de um ambiente. É a luz do sol, mas em uma relação de cores", explica calmamente.
Fiaminghi diz que, de certa forma, essa discussão já estava presente no impressionismo.
Mas Monet, explica, representava a paisagem. Fiaminghi não pinta paisagens, pinta formas. "Meu comportamento é concreto nesse sentido", explica o ex-concretista. A forma sobre a qual fala o artista não tem parentesco com o rigor geométrico que marcava os seus trabalhos dos anos 50 e 60.
Ele apenas faz referências a figuras geométricas.
Fiaminghi não quer mais ter limites para registrar as milhares de cores que enxerga.

Mostra: "CorLuz", de Hermelindo Fiaminghi
Onde: galeria Nara Roesler (av. Europa, 665, tel. 011/853-2123)
Quando: amanhã, a partir das 21h, com concerto de música barroca do grupo Harmonia Universalis; seg. a sex., das 10h às 20h; sáb., das 10h às 14h
Quanto: de R$ 8.000 a R$ 10 mil
Técnica: têmpera e óleo sobre tela

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