São Paulo, quarta-feira, 22 de abril de 1998
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'Obsessão' mantém memória

SÉRGIO MALBERGIER
DA REDAÇÃO

Há quem não entenda a obsessão de alguns judeus com o Holocausto. Mas como não ficar obcecado ao ter a família toda, a aldeia toda, a nação toda exterminada pela mais brutal forma de ódio justificando o que há de mais condenável no caráter humano?
O aspecto único do Holocausto, que o diferencia de horrores comparáveis como a escravidão e outras expressões de bestialidade generalizada, é que o extermínio do riquíssimo judaísmo europeu, berço de Einsteins, Kafkas e Freuds, foi executado pelo país mais culto da Europa pelo simples fato de os judeus serem judeus.
Eles não eram inimigos do Estado, não tinham exércitos, suas mortes não serviriam (prioritariamente) para o avanço econômico de seus perseguidores. Eram apenas de uma cultura/religião diferente e foram usados pela megalomania germano-hitlerista como a antítese do super-homem ariano, a ser eliminada do tecido alemão.
O feito nazista teve dimensões monumentais. Excluindo-se julgamentos morais, a engenharia criada para transportar milhões de judeus pela Europa em guerra e exterminá-los em câmaras de gás seria digna de admiração.
Quase 9 milhões de judeus viviam nos países europeus direta ou indiretamente sob controle alemão. Os nazistas conseguiram matar cerca de 6 milhões, ou 66%.
Os primeiros centros de extermínio nazistas começaram a funcionar em larga escala no final de 1941. No início de 1942, com a Rússia resistindo à ofensiva nazista e os EUA entrando na guerra, ficou claro que a Alemanha não triunfaria. Mesmo assim, Hitler deu prioridade à "solução final".
Os judeus "obcecados" com o Holocausto dizem ter como missão não deixar o mundo esquecer, para o horror não se repetir.
O sobrevivente de Auschwitz e prêmio Nobel da Paz Elie Wiesel, em recente volta à sua aldeia natal na Romênia, disse que a vida por lá continuava exatamente igual desde que deixara o lugar com a família, 40 anos antes, rumo à morte. A única diferença é que não havia mais judeus.
Se os judeus não se lembrarem de seu Holocausto, ele certamente será esquecido. Campanhas revisionistas vão a todo vapor, inclusive no Brasil, com livros e "pesquisadores" negando o genocídio.
É por isso que os judeus erguem museus, fazem pesquisas, criam feriados e realizam filmes para lembrar o Holocausto. Amanhã é o dia da Memória, em que judeus de todo o mundo lembram os 6 milhões de mortos na Europa. Em Israel, país que surgiu muito por causa do Holocausto, para que ele não se repita, a população pára por um minuto para lembrar, lamentar e reverenciar os mortos.

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