São Paulo, quarta-feira, 22 de abril de 1998
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ONU barra moção dos EUA contra Cuba

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

A Comissão de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) rejeitou ontem por 19 votos contra 16 (e 18 abstenções, entre elas a do Brasil) moção dos EUA para condenar Cuba por violações de direitos humanos.
É a primeira vez em sete anos que esse tipo de proposta norte-americana contra Cuba é recusada. Em 1997, ela fora aprovada por 19 votos contra 10 (e 24 abstenções). A decisão de ontem encerra as investigações da ONU em Cuba na área de direitos humanos.
A derrota é mais um forte indício do crescente isolamento da política americana em relação a Cuba, em especial no continente americano. Só um país da região, a Argentina, votou com os EUA.
No próximo dia 27, o primeiro-ministro do Canadá, Jean Chrétien, chegará a Havana em visita oficial. Será o primeiro chefe de Estado ou governo de um país importante do Ocidente a visitar Cuba desde o socialista espanhol Felipe González em 1986.
"Foi um voto pela verdade", comemorou em Havana o ministro das Relações Exteriores de Cuba, Roberto Robaina. "É uma derrota dos EUA que serve ao mundo inteiro, por mostrar que se nos unirmos contra os poderosos podermos obter justiça."
A reação dos EUA foi discreta. Em Washington, o porta-voz do Departamento de Estado, James Rubin, disse que seu país está "acostumado" com críticas à sua política para Cuba, mas a manterá.
"Nós sabemos que engajamento positivo não funciona com Cuba", disse Rubin, que, no entanto, desejou boa sorte a Chrétien em sua viagem a Havana e manifestou esperança de que o premiê canadense pressione o presidente cubano Fidel Castro a realizar reformas em direção à democracia.
Os EUA mantêm Cuba sob bloqueio econômico desde 1962, quando mísseis soviéticos foram instalados em território cubano. O bloqueio tem sido condenado por diversos países e líderes, inclusive o papa João Paulo 2º, que esteve em Cuba em janeiro.
No início de seu primeiro mandato, o presidente Bill Clinton dava sinais de que iria atenuar o bloqueio, permitindo maior intercâmbio cultural, científico e humanitário entre os dois países.
Mas, em 1996, ano em que se reelegeu, ele preferiu agradar ao lobby cubano, que tem grande força eleitoral em Estados-chaves na eleição presidencial americana, como Flórida e Nova Jersey.
Depois que um avião civil americano, de uma organização anticastrista, foi derrubado no espaço aéreo de Cuba, Clinton sancionou a Lei Helms-Burton (a que se opunha) para ampliar o embargo econômico. A lei prevê punição a governos e cidadãos de outros países que negociem com Cuba e irritou países aliados dos EUA.
Clinton vem usando essa lei com parcimônia e até agora não ocorreram punições baseadas nela.
Em março, Clinton autorizou o envio de dinheiro de cubanos residentes nos EUA a familiares em Cuba e vôos entre os dois países com objetivos humanitários.

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