São Paulo, quarta-feira, 22 de abril de 1998
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Laíno crê em primeira eleição limpa

OTÁVIO DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Candidato a presidente do Paraguai pela terceira vez, o economista Domingo Laíno, 62, da Aliança Democrática, tem uma oportunidade única de derrotar o Partido Colorado, que está no poder há mais de meio século, mas vem prejudicado por uma luta interna que, aparentemente, só foi solucionada anteontem.
Com a saída do general Lino Oviedo, do Partido Colorado, da disputa, Laíno assumiu a liderança nas pesquisas. Segundo a empresa First Analisis y Estudio, ele tem 39,1% da preferência do eleitorado, contra 35,1% para Raúl Cubas, substituto de Oviedo na chapa governista. A eleição está marcada para 10 de maio.
Para não assustar os militares, que governaram o país entre 1954 e 93, sempre com apoio dos colorados, Laíno adota um discurso cauteloso. "Queremos fazer mudanças, mas em paz. Buscamos um consenso nacional", disse o candidato à Folha, em entrevista por telefone de Assunção.
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Folha - O Partido Colorado sempre passa por disputas internas, mas, no final, vence a eleição. Um exemplo disso é o apoio de Raquel Oviedo, mulher do general Lino Oviedo, à chapa de Raúl Cubas e Luis María Argaña, este último um dos maiores defensores do afastamento de Oviedo da disputa. Os colorados vão ganhar de novo?
Domingo Laíno - O cenário é diferente. Em 1989, tínhamos uma lei eleitoral fascista e um órgão eleitoral fraudulento, a serviço dos interesses do governo. Em 93, já havia uma nova lei, mas o órgão eleitoral continuava o mesmo. Na eleição de 10 de maio próximo, pela primeira vez haverá votação livre e limpa. Temos agora um órgão eleitoral confiável. Também é a primeira vez que a oposição está unida em uma única candidatura.
Folha - Há décadas, o Partido Colorado se alterna no poder com os militares. Que apoio o sr. tem para quebrar essa aliança?
Laíno - O Partido Colorado está quebrado por conflitos graves. Eles mostraram não ser bons administradores de seu próprio partido e, portanto, também não devem administrar o país. Já os militares, eles estão proibidos por lei de militar em qualquer partido.
Há, nas Forças Armadas, uma vertente favorável à manutenção das instituições, profissional e apartidária. Acredito que teremos estabilidade e governabilidade para formar, pela primeira vez em nossa história, um governo de união nacional onde estarão, inclusive, representantes colorados.
Folha - Os colorados também se perpetuam no poder porque suas bases detêm os cargos públicos.
Laíno - As pessoas que trabalham na máquina pública podem ter segurança de que respeitaremos seu trabalho, desde que sejam honestas.
Folha - Há cerca de um mês, o sr. disse à Folha que estava negociando com simpatizantes de Oviedo uma frente contra o governo. O sr. ainda pretende atrair "oviedistas" descontentes?
Laíno - Abrimos as portas a todos os setores políticos.
Folha - O sr. faria um acordo em troca de uma anistia ao general?
Laíno - Abrimos as portas da Aliança Democrática a todos, inclusive aos bons colorados.
Folha - A anistia é possível?
Laíno - Não sei se é possível. Somos contra a impunidade. A Corte Suprema analisou o caso e o considerou culpado de tentativa de golpe. Isso deve ser respeitado.
Folha - Não se deve, portanto, esperar de seu governo um rompimento com o passado colorado?
Laíno - Somos realistas. Queremos fazer mudanças, mas em paz. Nosso desafio é a estabilidade democrática e a governabilidade. Buscamos um consenso social.
Folha - O sr. já perdeu duas disputas à Presidência do Paraguai. Esta é a última tentativa?
Laíno - Não sei se é a última, mas é a primeira eleição limpa que disputo. Agora, vou ganhar.

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