São Paulo, quarta-feira, 22 de abril de 1998
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Estado de guerra (3)

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Bem ou mal, com mais ou menos sucesso, as sociedades sempre souberam criar mecanismos em sua defesa. Houve até exageros, quando fragmentaram a própria sociedade em cidadãos de primeira, segunda e terceira classes.
Do ponto de vista econômico-social, nunca houve uma sociedade única, mas segmentos ricos e pobres, castas que se formaram no interior das comunidades com a tolerância e até com o incentivo dos Estados. No final deste século, com o neoliberalismo e a globalização, o corte ficou mais profundo e estanque. Sobretudo isso: estanque.
No setor da segurança (ia dizer: felizmente), ainda não foi inventado um truque para que alguns tenham mais segurança do que outros. Todos, indistintamente, estão sujeitos a serem assaltados e assassinados. Evidente que alguns podem pagar por uma segurança pessoal, mas nem assim estão livres do sequestro, como no caso do empresário Roberto Medina.
É por aí que deve haver uma saída. Impossível que uma sociedade como a brasileira, que tem fama de ser criativa, de bolar saídas inesperadas para suas crises, não encontre um meio de pelo menos equilibrar a guerra contra o crime. O ponto de partida, em minha opinião, deve ser a admissão do estado de guerra, para o qual o Estado não está preparado.
O Disque-Denúncia seria um embrião -mas é apenas um tiro de espingarda de rolha. Numa guerra de verdade, onde não existem uma terra de ninguém delimitada nem cidades abertas como Roma durante o segundo conflito mundial, todos estamos no front, todos podemos esbarrar com o inimigo a qualquer hora e em qualquer lugar, inclusive dentro de nossas casas.
Daí que a frente de combate passa pela carne de cada um de nós. Queiramos ou não, estamos na linha de tiro do inimigo. A partir dessa consideração, a decantada criatividade nacional deverá criar um contra-ataque que mude o rumo da guerra que estamos perdendo.

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