São Paulo, quinta-feira, 11 de junho de 1998
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Empresários condenam propostas do PT

EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

O senador Fernando Bezerra (PMDB-RN), presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), diz que o esboço do programa econômico do PT é "antiprivatizante e conservador".
"É isso o que faz o PT conservador aqui ou em qualquer lugar do mundo", afirma.
"Ao admitir que não quer a privatização, o partido mostra que não está sintonizado com o mundo moderno."
Bezerra discorda da quarentena proposta pelo PT. "Nós é que temos que dar condições para que o capital externo venha para o país", diz Bezerra.
Para ele, a proposta do PT "cria restrições ao capital externo de uma maneira geral".
"Já há muita desconfiança contra o Brasil. Esse programa do PT vai criar mais mecanismos de desconfiança", declara Bezerra.
O senador concorda com a proposta petista de redução dos juros.
"Quem não é a favor da redução dos juros?", afirma o presidente da CNI. Bezerra diz não ter lido ainda as propostas do PT. Mas elogia a iniciativa. "Pelo menos eles saíram da escuridão."
"Era uma coisa tão esquisita ter candidato a presidente da República e não ter uma política econômica definida", diz.
Difícil é fazer
Para Mário Amato, ex-presidente da Fiesp, a proposta do PT para o capital especulativo pode criar problemas para o país. "Qual o critério? Uma medida dessa tira o dinheiro do mercado. Você vai afugentar o investimento?", diz. "É fácil falar. O difícil é fazer."
Amato diz que não quer passar a imagem de "algoz do PT", mas afirma que não pode concordar com essas propostas.
"Lucro extraordinário das empresas privatizadas? O que é isso? Não há diferença entre lucro de empresa privatizada e de empresa comum."
No que diz respeito aos juros, Amato acha que deve haver uma proposta equilibrada.
"Eu também sou vítima dos juros. Mas se o juro for muito baixo, aumenta o consumo e isso faz subir a inflação. Tem que haver equilíbrio."
Amato chamou de "terrorismo" a idéia do PT de notificar os licitantes da Telebrás sobre eventuais danos ao país com a privatização da empresa.
"Isso vai fazer com que o governo consiga menor preço na venda da empresa."
O ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega chama de "disparate" a proposta da quarentena do PT. Para ele, isso só pode ser adotado quando há excesso de recursos externos, como no Chile.
"Juro mais baixo é desejo de qualquer governo. Mas tem que ter uma proposta coerente. Se mexer em uma peça, pode desequilibrar todo o jogo", afirma.
"O PT assusta também porque não explica como quer fazer isso", declara.
Para Nóbrega, o PT tenta imitar a proposta dos trabalhistas britânicos ao taxar os lucros de empresas privatizadas.
"Só que lá foi um pequeno grupo de empresas que teve lucros extraordinários."
"O PT dá a impressão de que quer punir todo mundo no Brasil", diz Nóbrega.
O ex-ministro critica a proposta de suspensão do programa de privatização anunciada pelos petistas. "Até a China comunista está privatizando."

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