São Paulo, quinta-feira, 11 de junho de 1998
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Partido omite questão fundamental

GUSTAVO PATÚ
COORDENADOR DE ECONOMIA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Não se pode exigir de um programa de governo uma definição precisa sobre o que será feito com as taxas de juros e de câmbio, mas a proposta de política econômica do PT omite uma questão fundamental: como recuperar a capacidade do Estado de gastar e investir.
O setor público tem hoje uma receita em torno de 30% do PIB (Produto Interno Bruto, a soma da produção nacional), que não é pequena para um país de renda média como o Brasil.
Os gastos públicos, mesmo com a qualidade insatisfatória dos serviços oferecidos pelo Estado, estão no patamar de 36% do PIB.
O resultado é o que os economistas chamam de déficit público, e as consequências não são abstratas: os governos são obrigados a tomar dinheiro emprestado no sistema financeiro, reduzindo a quantidade de recursos disponíveis para financiar a produção.
Para que a economia continue investindo, é preciso atrair capital externo, o que hoje se consegue, basicamente, com juros altos e privatizações.
Os dois mecanismos são rejeitados pelo PT, que pretende reduzir as taxas de juros e suspender as vendas de estatais.
Aparentemente, o partido também não quer reformar o sistema de previdência social ou reduzir gastos com pessoal.
Pelo contrário: um eventual governo petista teria de responder às demandas de sua base por reajustes salariais aos funcionários públicos, aumento do salário mínimo e mais gastos com saúde e educação.
Para tirar o governo federal do buraco financeiro em que se encontra, as propostas do PT conhecidas até agora são: taxação de lucros de empresas privatizadas, taxação de grandes fortunas, redução dos juros e crescimento econômico (que eleva a arrecadação).
Os dois impostos previstos precisam ser aprovados pelo Congresso, onde o PT e seus aliados são minoria. Ainda que os tributos sejam criados, seu poder de arrecadação é duvidoso. Elevações excessivas da carga tributária costumam gerar sonegação e informalidade.
A redução dos juros de fato melhoraria as contas públicas, mas o país teria antes de reduzir sua dependência de capital externo ou torcer para uma melhora do mercado internacional. Sem isso, o crescimento da economia também fica comprometido.
Faz mais sentido, portanto, reduzir o déficit público para permitir a queda dos juros e o crescimento econômico do que contar com juros menores e mais crescimento para resolver o déficit público.

Texto Anterior: Empresários condenam propostas do PT
Próximo Texto: Lucro da CSN cresce 3.000% após venda
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.