São Paulo, quinta-feira, 11 de junho de 1998
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Quanto custará o Garantia

CELSO PINTO

O Crédit Suisse First Boston, CSFB, poderá pagar até US$ 1 bilhão pela compra do Garantia. Além disso, os sócios do Garantia vão embolsar outros US$ 200 milhões extras.
A explicação, já mencionada numa coluna anterior, é que o Garantia tem hoje um capital em torno de US$ 600 milhões. O CSFB vai comprar, contudo, um banco com patrimônio líquido em torno de US$ 400 milhões. A diferença será embolsada pelos sócios do Garantia antes da transferência do controle.
Para os sócios do Garantia, é uma forma de maximizar os ganhos na transferência de controle. Para os suíços, por outro lado, não causa qualquer problema. Todos concordam que, com um banco internacional do porte do CSFB no controle, certamente o Garantia pode operar com um capital menor.
Os suíços anunciaram que estão pagando US$ 675 milhões pelo Garantia, dos quais US$ 200 milhões em dinheiro e o resto em ações do CSFB. Além desse pagamento fixo, contudo, existe um pagamento variável, que vai depender do desempenho do Garantia nos próximos três anos.
Se o Garantia conseguir um retorno, nos próximos três anos, compatível com a rentabilidade obtida pelo grupo no resto do mundo, todos os sócios embolsarão um bônus extra pela venda.Os sócios que ficarão no banco, a chamada "nova geração", embolsarão mais do que a "velha geração".
No total, se prevalecerem as melhores hipóteses, esse valor variável pode ficar em torno de US$ 300 milhões, elevando o desembolso do CSFB para cerca de US$ 1 bilhão. O que equivaleria a uma vez e meia o patrimônio do Garantia (de US$ 400 milhões).
Parte do pagamento será parcelado em três anos e, como é de praxe, servirá como garantia contra qualquer contingência, qualquer dívida inesperada herdada do passado. Pelo que se sabe, não deverá haver surpresas. Depois das fortes perdas na crise de outubro, alguns clientes do banco ameaçaram abrir processos. A maioria, contudo, não chegou lá.
A transmissão de controle depende da autorização formal do presidente e do Conselho Monetário Nacional. Calcula-se que o processo esteja terminado até o final de julho.
A "velha geração" que deixa o Garantia inclui Jorge Paulo Lemann, principal acionista, Cláudio Haddad, Marcel Hermann Telles e Carlos Alberto Sicupira. Os quatro têm mais de 50% do controle do banco.
O que pouca gente sabe é que, entre os acionistas antigos que acompanharão a "velha geração", está Guilherme Arinos de Mello Franco, pai de Gustavo Franco, presidente do Banco Central. Guilherme ainda tem 0,5% do capital do Garantia. Outro acionista da "velha geração", que já não estava na operação do banco, é Ramiro Oliveira.
Quem tem medo do PT?
O que o investidor externo faria se Lula disparasse nas intenções de voto para presidente?
Fiz a pergunta a quatro investidores institucionais americanos que vieram ao Brasil, esta semana, para conferir "in loco" o que está acontecendo. Dos quatro, três venderiam seus papéis brasileiros. O quarto ainda não tem títulos brasileiros em seu porta-fólio e continuaria não tendo.
A amostra não é boa para o PT, mas o governo também não tem muitos motivos para comemorar. Dos quatro executivos, apenas um deles acredita que, se o presidente FHC for reeleito, mostrará maior determinação, no segundo mandato, para aprovar as reformas necessárias para fazer o país decolar. Os outros temem que o segundo mandato seja pior do que o primeiro, com o risco de o país ficar andando de lado.
O temor a Lula é, acima de tudo, o medo do desconhecido. Não há preconceito contra a oposição chegar ao poder. Um dos investidores lembrou dois exemplos recentes na Europa, quando os velhos comunistas voltaram ao poder na Bulgária e na Polônia. Na Bulgária, foi um desastre. Na Polônia, contudo, os comunistas mantiveram o roteiro de reformas e não houve sobressalto. Talvez porque os velhos comunistas da Polônia nunca se pareceram, de fato, aos velhos comunistas da Bulgária.
Em outros termos, se Lula fosse percebido pelos investidores mais como um polonês do que como um búlgaro, não haveria grande trauma. Que fique claro, no entanto, que não haverá nada de errado se Lula quiser ser um búlgaro. Democracia é isso: opção para a sociedade, de tempos em tempos, decidir que rumo tomar. Que fique claro, também, que o entusiasmo por FHC está muito, muito longe da euforia.

E-mail: CelPinto@uol.com.br

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