São Paulo, domingo, 14 de junho de 1998
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Grupo reúne pais de adolescentes em PE

DA REPORTAGEM LOCAL

"Esqueceram do pai." A constatação, extraída do contato com entidades que lidam com gravidez na adolescência, levou o psicólogo Jorge Lyra, 30, a criar um serviço para pais jovens. Foi batizado de "Papai, Programa de Apoio ao Pai Jovem e Adolescente" e funciona há oito meses na clínica de psicologia da Universidade Federal de Pernambuco, no Recife.
A primeira dificuldade -conta Lyra- foi chegar até esses pais, pois eles não existem aos olhos das instituições e dos programas de saúde. Quem aparece nos serviços são as adolescentes grávidas, geralmente acompanhadas de suas mães. Foi por meio delas que se chegou aos cerca de 30 pais atendidos pelo programa.
Na dissertação de mestrado que defendeu na PUC de São Paulo, Lyra diz ter observado a distância entre as instituições que trabalham com direitos reprodutivos e os homens. Daí nasceu o programa de intervenção no Recife.
"Há um silêncio sobre o adolescente e o jovem que se torna pai", diz. "Foram os grupos feministas que ofereceram sugestões e suporte para o programa."
Direitos e deveres
Nos trabalhos em grupo dos quais participam os pais são discutidos temas como planejamento familiar, contracepção, cuidado infantil, direitos e deveres. "Entre os adolescentes havia um que não visitava o filho porque a companheira não deixava. Ele não sabia que, legalmente, tinha esse direito", conta Lyra,
O psicólogo ressalva que o Papai não é um grupo restrito aos homens. "Não queremos um movimento masculista. Achamos que o homem deve compartilhar e que tem direitos e deveres."
Seus contatos evidenciaram uma situação que se repete em pais jovens de várias classes sociais. Ainda sem autonomia financeira, eles ficam sem poder de negociação, muitas vezes "perdendo" o filho para os avós. Outra constatação é o interesse pelos filhos observado nesses pais jovens. "Quando tem oportunidade, eles se mostram empenhados e preocupados em estar com o filho."
As teses que mostravam a gravidade e os danos da ausência paterna foram substituídas, nos últimos 20 anos, por estudos que destacam a importância da participação do pai nos cuidados com a criança, lembra o psicólogo. O slogan dessa "nova paternidade", apesar de desgastado pela mídia, continua valendo: "não basta ser pai; tem de participar."

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