São Paulo, domingo, 14 de junho de 1998
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Negociação nacional opõe sindicato e indústria

MAURICIO ESPOSITO
DA REPORTAGEM LOCAL

A estratégia de sindicatos de metalúrgicos de partirem para negociações coletivas nacionais vai enfrentar resistência na indústria.
Os sindicatos querem negociar nacionalmente com os patrões e, assim, tentar minimizar as variações salariais e de concessão de benefícios existentes entre as empresas de diferentes regiões.
O argumento é que, se o preço do carro não muda de região para região, o mesmo não deve acontecer com os salários ou benefícios.
Ou seja, um metalúrgico de uma montadora de Minas Gerais deve ganhar tanto quanto um do ABC paulista, por exemplo.
Na avaliação da indústria, entretanto, as negociações coletivas nacionais seriam inviáveis por tentar anular a realidade regional de cada empresa e de seus trabalhadores.
As duas principais centrais sindicais do país, CUT (Central Única dos Trabalhadores) e Força Sindical, acreditam que as negociações coletivas nacionais serão uma tendência para os próximos anos.
Os metalúrgicos da CUT já aprovaram a criação de um sindicato nacional da categoria, que deverá estar em atuação no ano 2001.
A proposta foi debatida no 4º Congresso Nacional dos Metalúrgicos da CUT, no final de semana passado.
No próximo ano, um congresso extraordinário dos metalúrgicos da CUT irá discutir o estatuto da entidade.
Segundo a central, a nova entidade vai representar 90 sindicatos e aproximadamente um milhão de metalúrgicos cutistas.
O sindicato nacional de metalúrgicos da CUT dará maior força para os trabalhadores nas negociações, afirmou Heiguiberto Guiba Della Bella Navarro, presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT.
"Alguns sindicatos têm 500 trabalhadores na base e estão falidos, enquanto outros representam mais de 100 mil metalúrgicos", comparou o dirigente.
A CUT quer tentar montar uma estrutura de sindicato nacional a partir das comitês sindicais nas fábricas, que vão compor as direções das sedes regionais.
A idéia é evitar que dirigentes sem vínculo com as fábricas atuem na entidade.
A Força Sindical também aposta nesta tendência e está reestruturando a Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos, "conquistada" pela central nas eleições do ano passado.
Para o presidente da Comissão de Negociações Trabalhistas da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Antônio Cursino de Alcântara, a tendência nas relações trabalhistas é justamente o oposto do desejo dos sindicatos.
O negociador da Anfavea acredita que deverão prevalecer no futuro as negociações por empresa.
"Cada indústria tem as suas necessidade, a produção é diferenciada e o Brasil é diversificado", disse Alcântara.
Na opinião do advogado Drausio Rangel, negociador do Sindipeças (sindicato nacional das empresas que fabricam autopeças), as negociações trabalhistas devem continuar regionais, devido às diferenças entre as regiões do país.
"É difícil que se consiga um contrato padrão nacional; o que é bom para Manaus pode não ser bom para São Paulo", afirmou.
O negociador do Sindipeças não descarta a possibilidade de sindicatos nacionais de trabalhadores serem criados, desde que negociem regionalmente.
Rangel acredita que até algumas cláusulas possam ter validade nacional, como as que versam sobre defesa dos direitos e condições de saúde do trabalhador.
Os sindicatos, porém, desejam discutir nacionalmente questões como salários e benefícios.
"Com esses parâmetros nacionais poderíamos discutir regionalmente outras questões, até por empresas", disse o presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT.
"Temos que discutir por que uma montadora paga menos para seus funcionários em outros Estados que não São Paulo", acrescentou o dirigente.
"Essa discussão com os empresários é uma luta que os sindicatos vão ter pela frente", avaliou Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e presidente interino da Força Sindical.
Segundo ele, um contrato coletivo nacional evitaria o "dumping social interno", isto é, empresas em desvantagem competitiva porque pagam salários mais altos.

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