São Paulo, domingo, 14 de junho de 1998
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Don Giovanni

MATINAS SUZUKI JR.

Giovanni não é escolha do velho Lobo Zagallo, como ele sempre deixou claro.
Ou foi incluído (no último dia, para surpresa de todos) por Zico, ou por intervenção direta de Ricardo Teixeira, que andava preocupado com o meio-campo da seleção brasileira.
Não foi grande problema para Zagallo engolir Giovanni porque o técnico da seleção brasileira está com a cabeça branca de tanto saber que Giovanni não era o jogador indicado para fazer o que iria pedir para ele fazer.
Daí a felicidade (e a rapidez inusitada) com a qual o velho Lobo substitui Giovanni por Leonardo -a sua verdadeira opção, mesmo jogando no lugar errado. Da felicidade, Zagallo vai à hipocrisia ao dizer que Giovanni o decepcionou e foi apático.
No jogo contra a Escócia, Giovanni não foi nem mais nem menos apático do que é normalmente. Ele simplesmente passou a executar funções para as quais não é, realmente, a melhor opção.
Não estou querendo afirmar que Giovanni teria jogado bem se tivesse sido posicionado mais à frente, mais próximo de Ronaldinho. Ele é um jogador que precisa de ritmo de jogo e de competição. Mas, se tivesse sido colocado mais à frente, Giovanni estaria recebendo um julgamento em bases mais justas, e não sendo usado por um expediente manjado do velho Lobo.
O curioso é que o drama de Giovanni é muito parecido com o de Raí, a quem, em 94, também foi pedido para jogar fora de suas características. A diferença básica é que Parreira deu tratamento humano digno a Raí e apostou nele até a última hora -tratamento que Zagallo não dispensou a Giovanni. Além disso, não se pode esquecer que Leonardo ainda está por provar que pode desempenhar as funções táticas que estão sendo reservadas para ele.
*
O velho Robby Baggio, com seu zen-fut, foi o melhor jogador da Copa até sexta, quando escrevi esta coluna. Baggio foi essencial no empate da Itália contra o Chile. Na coletiva depois do jogo, com tranquila resignação, disse: "se Del Piero se recuperar, ele volta ao time, porque ele é o titular e eu, o reserva".
Que diferença de clima de puxação do tapete que está entre os jogadores da seleção brasileira.

Texto Anterior: Ponto sem volta
Próximo Texto: Para todos os gostos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.