São Paulo, domingo, 14 de junho de 1998
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Argentina joga na terra de Gardel

RODRIGO BERTOLOTTO
ENVIADO ESPECIAL A SAINT-ÉTIENNE

Jogadores e técnico buscam inspiração no maior ídolo do país para o jogo de estréia, contra o Japão, hoje, em Toulouse

"Não há meio-termo: um dia, você é Carlos Gardel. No outro, carta fora do baralho." O dito popular, que define quanto o argentino valoriza os êxitos constantes, é uma das frases preferidas de Daniel Passarella, que comanda hoje sua seleção na estréia na Copa.
O lugar da partida contra a seleção japonesa não poderia ser mais simbólico para a Argentina: Toulouse, a terra natal do maior mito do país, o cantor de tango Carlos Gardel, cujo apelido de criança era "El Francesito".
Gardel afirmou, durante toda sua vida, ser uruguaio. Mas em seu testamento, em 1935, confessou ter nascido na cidade do sul francês conhecida como "la ville rose" (a cidade rosa, em português).
Suas biografias mais confiáveis contam que ele nasceu em 11 de dezembro de 1890, filho natural da passadeira de roupa Berta Gardès, e, aos três anos, imigrou com a mãe para o país sul-americano.
Saber sofrer
A música que Carlos Gardel consagrou, porém, não é exclusividade do técnico Passarella na hora de buscar uma explicação para as reviravoltas do futebol.
"A maior verdade do mundo está em uma letra de tango que diz: 'Primeiro, você tem de saber sofrer'. Olha, perder uma partida importante muitas vezes torna o time ainda mais forte", afirma o capitão Simeone, principal líder da equipe em campo.
Mas uma derrota está fora do previsto, afinal, o objetivo de Passarella é estar, no mínimo, entre os quatro semifinalistas. Desde 1982, esse é o primeiro Mundial da Argentina sem o segundo maior ídolo nacional, Diego Maradona.
Por seu lado, o Japão, um novato em Copas como os companheiros de Grupo H Croácia e Jamaica, montou um sistema defensivo para frear o ataque argentino.
"Meus críticos vão apagar com o cotovelo o que escreveram com a mão", afirmou Passarella, antes de embarcar para a França.
O grande sonho, porém, é o reconhecimento na França do futebol argentino, repetindo o que aconteceu no começo do século com a música típica de Buenos Aires, que, virando moda nos bailes de Paris, deixou de ser um ritmo de cabarés pobres.
"O tango voltou à Argentina cheio de passos, filigranas e voltinhas. Os tangueiros parisienses dançam com chantilly, substituindo a clássica aguardente dos bailes daqui", relatou em uma edição de 1913 a revista PBT, a de maior circulação na Argentina da época.
Três esquemas
O atual futebol da Argentina não vai se transformar na França e estará longe das firulas da dança portenha. Passarella é um técnico de esquema, em que cada jogador tem uma função predeterminada.
Para a Copa, ele tem essencialmente três desenhos táticos. O que deve usar mais é o 3-5-2 (três defensores, cinco meias e dois atacantes), como fez contra o Brasil.
Quando precisar se defender, o time volta ao tradicional 4-4-2, o mesmo adotado pelo time de Zagallo. Se a ocasião mandar atacar, é a vez da tática ofensiva do 3-4-3.
O único com liberdade é o meia Ariel Ortega. "Ele pode jogar na posição que quiser e como quiser", afirmou o técnico.
Se o tango é popular entre futebolistas, o mesmo não se dá no sentido contrário: o turfe bate de longe o futebol como tema de canções. Entres os chamados tangos turfísticos, o mais famoso é "Por Una Cabeza", que recentemente se tornou a música-tema do filme norte-americano "Perfume de Mulher", estrelado pelo ator Al Pacino.

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