São Paulo, domingo, 14 de junho de 1998
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Penas Urbanas

LEDUSHA

Além das vidraças, as aves imóveis bicam com os olhos os telhados e parapeitos úmidos. Letícia prega botões madrepérola na alva mousseline. Dedos cuidadosos contrastam com a avidez da agulha. Professor vislumbra carta confessional. Murano azul-infinito: lírios transbordam. Olhos ressecados de solidão e desterro. Pedro perde os sapatos fugindo da tenista. Valquíria não quer mais amar depois do susto. Mãos entre torpor e obras. Falas decapitadas pipocam feito ecos. Gemidos: veios insondáveis por onde vêm, depois se esvaem. A fria ausência de horizonte perturba profundamente os pássaros, que se recolhem em suas devastadas penas plúmbeas.

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