São Paulo, quarta-feira, 17 de junho de 1998
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Na medida certa

ALBERTO HELENA JR.

Não, não, não me venha com esse baixo-astral de que, afinal, esse timinho de Marrocos não é de nada e merecia ter levado de uns sete ou oito a zero. Até podia ter sido mesmo uma goleada dessas de fazerem tremer o pedestal da Copa. Mas os 3 a 0 que o Brasil impingiu em Marrocos, ontem à noite, aqui em Nantes, não só nos garantiu o primeiro lugar no grupo, como ficaram na medida certa, digamos, do ponto de vista psicológico.
Mais, muito mais, poderia nos elevar ao alto dos saltos, de onde já vimos times muito mais célebres despencarem pateticamente. Menos, mesmo que fosse apenas um gol, deixaria aquele travo de festa inacabada.
Mesmo porque, se tivemos alguns momentos de deslumbres, tanto no primeiro quanto no segundo tempo, sobretudo nas jogadas que resultaram nos três gols, também demos sinais de sobressalto.
Nada que chegasse a angustiar, mas um passe errado aqui de Aldair, que ofereceu ao inimigo um instante de animação; uma matada de joelho de Júnior Baiano, ali, que nos desperta velhos temores sobre a instabilidade emocional do becão, essas coisinhas. Pior foi constatar que, mais uma vez, logo após a conquista do primeiro gol, recuamos, batemos cabeça (literalmente) e injetamos ânimo no adversário, que tinha tudo para se apavorar diante dos campeões do mundo.
Contudo, o mais animador foi ver o time equilibrar-se em campo com tantos canhotos. Leonardo, por exemplo, foi muito bem por aquela faixa onde eu julgava impossível ele mover-se com fluência. E Rivaldo, mais à esquerda, foi um dos destaques da equipe. Menos em razão daquela chaleira de alta classe que aplicou no segundo tempo sobre um marroquino atônito e muito mais por conta da capacidade de alternar, com sabedoria, o jogo, pela direita ou pela esquerda, explorando bem a capacidade ofensiva dos nossos dois laterais -Cafu e Roberto Carlos.
Além do mais, Ronaldinho movimentou-se o tempo todo, brigou pela bola e, quando de posse dela, fez algumas jogadas de arrepiar. Mais que isso: exorcizou, com o gol, o fantasma do estio que rondava o nosso artilheiro. De resto, é festejar, com comedido prazer.

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