São Paulo, quarta-feira, 17 de junho de 1998
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Entre a ciência e o futebol

LUIZ CAVERSAN

Rio de Janeiro - Para quem admira os habitantes daquela ilha que fica do outro lado do canal da Mancha, vizinha ao país da Copa, e se revolta com o comportamento bestial dessa subespécie humana denominada "hooligans", aí vai uma boa notícia: cientistas ingleses afirmam ter conseguido a proeza inédita de registrar em imagem um pensamento humano.
Deu no jornal inglês "Daily Telegraph": utilizando uma espécie de sonda idealizada originalmente por um pesquisador dos Estados Unidos -ex-colônia inglesa, lembre-se-, que detecta os impulsos elétricos que percorrem o cérebro humano, os ingleses filmaram em vídeo e fotografaram um desses sinais. Ou seja, fizeram o retrato do pensamento.
Trata-se na verdade de um flash, uma espécie de raio, visto até agora por uns poucos cientistas, que tiveram acesso ao material obtido por um conjunto de cateter, microcâmera e outros apetrechos. Conforme a explicação dos especialistas para nós leigos, trata-se do pensamento pulando de uma célula para outra bem rapidinho, a cerca de 450 km por hora.
Não deixa de ser um avanço louvável, embora qualquer tipo de domínio sobre o pensamento ocasione sempre alguma apreensão.
Para ainda ficar nos domínios de Elizabeth 2ª, basta lembrar os horrores imaginados pelo escritor inglês George Orwell (1903-1950) em seu clássico de ficção "1984" (publicado em 1949), no qual ele descrevia uma sociedade absolutamente dominada por um poder central totalitário e cruel, que tinha como principal aliado a tecnologia, por meio da qual buscava controlar o pensamento dos cidadãos para subjugá-los.
Mas o ano descrito por Orwell já passou há uma década e meia e nada disso aconteceu.
O que permitiria supor, num rompante de otimismo, que a presente conquista dos estudiosos ingleses será usada somente para fins absolutamente pacíficos.
Bem, os cientistas, esses marotos, disseram a mesma coisa quando descobriram a energia atômica...

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