São Paulo, quarta-feira, 24 de junho de 1998
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Delegados condenados atuam na PF de SP

RENATO KRAUSZ
DA REPORTAGEM LOCAL

A procuradora-chefe do Ministério Público Federal em São Paulo, Elizabeth Peinado, enviou ontem ao procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, um dossiê com os processos e condenações sofridas por 8 delegados e 25 agentes da Polícia Federal que trabalham no Estado de São Paulo.
O dossiê integra o trabalho, desenvolvido pela procuradoria, que tenta traçar um perfil nacional da corrupção na PF.
A procuradora se diz perplexa com a afirmação do delegado-geral da Polícia Federal, Vicente Chelloti, que cobrou do Ministério Público os nomes dos envolvidos.
"O Ministério Público não investiga, apenas denuncia à Justiça. Todas as informações que temos partiram de inquéritos ou sindicâncias feitas pela própria PF. A polícia tem esses nomes. Além disso, os nomes são públicos, qualquer pessoa pode ter acesso a eles na Justiça Federal", afirmou a procuradora.
Em razão disso, Elizabeth Peinado afirma que o fato de a maioria desses policiais continuar trabalhando evidencia "a ineficiência da PF e do Ministério da Justiça em extirpar dos quadros os maus policiais."
As condenações e processos que estes policiais estão sofrendo se devem a vários tipos de crimes contra a administração pública: facilitação de contrabando, peculato, prevaricação, extorsão e até cárcere privado e sequestro.
Todos os delegados citados no dossiê têm processos em andamento -em quantidade que varia de um a três para cada delegado- e quatro desses policiais já têm condenações em primeira instância.
Outros dois delegados têm condenações anuladas, além de processos em andamento. A maioria das anulações ocorre por prescrição. Parte delas também é obtida graças "argumentos esdrúxulos" utilizados pela defesa no TRF (Tribunal Regional Federal), segundo a procuradora.
Dois dos delegados citados no dossiê têm postos de chefia na Polícia Federal em São Paulo, situação que a procuradora qualifica como "absurda".
Um desses delegados sofreu uma condenação de primeira instância de seis anos de prisão por facilitação de contrabando e tem outros dois processos em andamento. O outro delegado em posto de chefia está sendo processado por prevaricação.
Apenas um delegado citado no dossiê já está preso e outro, demitido. O delegado preso é Carlos Leonel da Silva Cruz, detido no final do mês passado acusado de extorsão. A prisão dele foi acelerada pelo assassinato do delegado-corregedor da PF em São paulo, Alcioni Serafim Santana, que estava investigando Cruz.
Há um delegado, segundo a procuradora, que já sofreu nove processos, que não deram resultado devido a estratégias dos advogados de defesa de prorrogar o julgamento até a prescrição.
Entre os agentes de polícia, apenas um dos 25 citados no dossiê está preso.
Segundo Elizabeth, todos os crimes citados no dossiê são casos de corrupção isolados. "Não existem provas sobre uma ação coordenada, apesar do fato de os agentes citados nas denúncias estarem sempre ligados a delegados também denunciados."
Elizabeth não apresentou o dossiê a imprensa, alegando que essa decisão caberia a Brindeiro.
A Folha tentou localizar o superintendente da PF em São Paulo, Yukio Oshiro, e os delegados citados no dossiê para comentarem as afirmações da procuradora, mas, em razão do meio expediente decretado na PF devido ao jogo do Brasil, isso não foi possível.

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