São Paulo, quarta-feira, 24 de junho de 1998
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Noruega usa 'origens' para vencer

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
ENVIADO ESPECIAL A MARSELHA

No momento que Bebeto marcava o gol brasileiro, Egil Ostenstad estava ao lado do juiz auxiliar mostrando as chuteiras, pronto para para entrar.
Ele seria o terceiro atacante no time, o tudo ou nada planejado pelo técnico norueguês Egil Olsen à véspera do jogo para buscar a necessária vitória.
O gol brasileiro, porém, fez Olsen mudar de idéia num estalo. E Jostein Flo, irmão do atacante Tore Andre Flo, entrou em campo para reabilitar o jogo aéreo, deixado de lado no início do jogo.
"Tínhamos que arriscar. Só assim alcançaríamos a vitória. Foi impressionante. Quando o Brasil marcou, achei que estávamos fora", declarou o técnico.
Olsen arriscou certo. No intervalo, sabendo que Marrocos ganhava de 1 a 0 e que só uma vitória interessava, promoveu a entrada de Erik Mykland, o meia que estava no banco por chegar bêbado, às 5h da manhã, durante um período de concentração.
O time melhorou. Olsen colocou mais um atacante, Ole Solskjaer, outro que tinha a entrada planejada. O gol brasileiro, porém, fez Olsen jogar fora toda a estratégia que havia montado para o jogo e apelar para a afinidade de sua mais tradicional formação ofensiva.
Uma decisão que mudou o jogo e que fez a Noruega virar o placar. "Foi uma partida maravilhosa. Estou muito orgulhoso de meu time, de meus jogadores. Foi a vitória mais importante e mais maravilhosa de minha carreira", disse.
A excitação, no entanto, não acionou a faceta de falastrão do técnico norueguês.
"O time brasileiro foi excelente. O jogo para eles não importava, algo que era bom para nós. Mas, mesmo assim, jogaram de forma exemplar. São muito bons com a bola", afirmou Olsen
O elogio foi provocado pela atitude do capitão brasileiro, Dunga, que, segundo relato do técnico e dos jogadores noruegueses, passou pelo banco de reservas da equipe para xingá-los.
Dunga negou, após o término da partida, ter feito isso.
"Essa atitude me deixou preocupado. Falei uma série de coisas sobre Zagallo e o Brasil e acho que fui mal compreendido. Não falo mais nada", disse.
Na verdade, desde anteontem Olsen vinha reprimindo suas opiniões, negando-se a responder as acusações de Zagallo pela mídia.
"Acho que o Brasil é um grande time. Ficarei espantado se não seguirem jogando bem durante todo o Mundial", completou.
Volta Olímpica
A comemoração da equipe norueguesa durou cerca de dez minutos. Os jogadores ensaiaram até uma volta olímpica, saudando com "olas" os torcedores em cada um dos quatro lados do campo.
Tore Andre Flo, que havia planejado trocar a camisa com Ronaldinho, acabou se contentando com a de Dunga.
"Acho que Ronaldo estava chateado, assim como quase todos os jogadores brasileiros. Saiu correndo. Tentei alcançá-lo, mas não consegui. Mas acabei conseguindo a camisa do Dunga", disse o atacante norueguês.
Sobre o pênalti, que permitiu à Noruega virar o placar, Flo apenas afirmou que passou o jogo inteiro discutindo com o zagueiro Júnior Baiano.
"Ele usa muito o cotovelo. Sempre que disputávamos a bola, falava um monte de coisas que eu não entendia. Reconheço que também xinguei bastante em norueguês", declarou.
A equipe, que havia abandonado sua base no norte da França, manterá agora sua concentração em Aix-en-Provence, a cerca de 60 km de Marselha, local da partida contra a Itália, no sábado, válida pelas oitavas-de-final.
"Já estamos pensando nesse jogo. Não poderemos nem comemorar o grande resultado contra o Brasil. Precisamos nos recuperar muito rapidamente. E treinar muito também para obter mais uma vitória. Começaremos amanhã (hoje)", revelou Olsen.

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