São Paulo, sexta-feira, 26 de junho de 1998
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Brasileiros chiam para ver treino

ALEXANDRE GIMENEZ; JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO; MARCELO DAMATO; MÁRIO MAGALHÃES
DOS ENVIADOS A OZOIR-LA-FERRIÈRE

Torcedores têm sucesso em revolta contra empresa que tentou cobrar até R$ 30 por ingresso para acompanhar a seleção

"Carandiru, oba, Carandiru, oba". Era o que gritava a torcida brasileira diante da tenda da Prefeitura de Ozoir, que distribui ingressos para os treinos da seleção, pedindo a prisão de integrantes da empresa montada para receber os turistas na cidade durante a Copa.
A revolta dos torcedores começou quando eles descobriram que, para ver o treino do Brasil, deveriam colocar a mão no bolso.
Para obter a entrada, havia três alternativas: almoçar num restaurante atrás do estádio por R$ 30, comprar uma camiseta com a inscrição Ozoir-Brasil por R$ 35 ou parar o carro num estacionamento desembolsando R$ 20.
O alvo da revolta era Raphael Santamaria, sócio do restaurante e membro da empresa Ozoir-Brasil, companhia de capital misto, com verbas da prefeitura da cidade que abriga os treinos da seleção.
Dizendo-se funcionário da prefeitura, Santamaria tinha os ingressos para a arquibancada do estádio dos Três Pinheiros, que deveriam ser gratuitos, mas afirmava que só os entregaria se os torcedores fossem ao restaurante, comprassem a camiseta ou usassem o estacionamento.
Revoltados, os brasileiros, a maioria hospedada em Paris, invadiram a tenda da prefeitura e iniciaram um empurra-empurra com os seguranças de Santamaria.
Com a situação cada vez mais tensa, a torcida chamou a polícia, que chegou à tenda sob aplausos. Santamaria, então, acabou sendo detido, e os ingressos, liberados gratuitamente para os torcedores.
Segundo Santamaria, o motivo da "cobrança indireta" dos ingressos é a dificuldade que a empresa Ozoir-Brasil tem tido para arrecadar dinheiro.
A princípio, a idéia era montar pacotes para torcida-vip, que, por cerca de R$ 300, passaria o dia no estádio dos Três Pinheiros, com transporte e refeições inclusos. Como ninguém se interessou, a empresa tentou começar a fazer uma "cobrança indireta", incluindo o setor de arquibancada, que deveria ser gratuito.
"Falam tanto do Brasil, mas sacanagem tem em todo lugar", dizia o campineiro Jurandir Martins, que chegou à França para assistir as oitavas-de-final.
"Isto é uma máfia", reclamava o baiano Arthur Régis, torcedor do Fluminense. "Já estou pagando US$ 300 a cambistas para ver os jogos, só falta começarem a meter a mão nos treinos também."
A mais revoltada, porém, era a mineira Maria de Oliveira, que mora na França e diz ter sido criada "nas favelas do Rio".
"Comigo não tem papo não, eu resolvo as coisas no braço", bradava, em cima de uma mesa, ameaçando os seguranças da empresa montada para receber os turistas brasileiros.
À tarde, o prefeito Jacques Loyer lamentou o "incidente" e tentou isentar a prefeitura de quaisquer responsabilidades, embora tenha ela participação na empresa Ozoir-Brasil.
"Os ingressos para o treino são gratuitos, uma parte para os moradores de Ozoir, outra para os torcedores brasileiros", explicou.
"O que aconteceu foi um episódio lamentável, que já foi superado, com a detenção de quem estava querendo lucrar com os ingressos. Juro que não sabia de nada. Tanto é verdade que eu mesmo apoiei a decisão da polícia municipal, que deteve para depoimento quem tentou lesar os brasileiros."
Apesar das declarações do prefeito, a oposição na Câmara Municipal deve usar o episódio contra Loyer na análise das contas da cidade após a passagem da seleção brasileira.
(AGz, JCA, MD e MM)

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