São Paulo, sexta-feira, 26 de junho de 1998
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Brasil segue 'em alta' na França

JOÃO BATISTA NATALI

ENVIADO ESPECIAL A PARIS

Pode parecer estranho, mas a imagem do futebol brasileiro não sofreu desgaste com a derrota de terça-feira diante da Noruega.
"Os derrotados foram os espanhóis e os belgas, que não passaram para as oitavas-de-final", diz Daniel Cucherat, proprietário de uma barraca de produtos da Copa, quase em frente à Ópera de Paris.
Afirma estar vendendo a mesma quantidade de bonés verdes e amarelos (por 95 francos, ou R$ 19,00), de bandeiras brasileiras (R$ 20,00) e de uma camiseta não-oficial da seleção.
A Folha percorreu ontem alguns pontos centrais da cidade e obteve, com ligeiras variações, quase sempre a mesma resposta.
Sete bancas parisienses com souvenirs de futebol compõem uma amostragem um tanto tosca. Mas, em conjunto, expressam uma realidade do mercado. Estavam todas liquidando camisetas da Jamaica ou do Japão, já desclassificados.
"O Brasil não perdeu. Quem perdeu na terça foi Marrocos, que precisou voltar para casa", diz Yessre, uma libanesa tagarela, com barraca montada no boulevard Montmartre.
"Coisas do Brasil continuam a vender como pão de uvas passas", diz ela, em referência a uma saborosa especialidade das padarias locais.
"Na verdade, ao jogar contra a Noruega o Brasil não quis se cansar. Ele voltará com toda a força contra o Chile", afirma Abdel, com barraca no Quartier Latin, diante das ruínas das termas que os romanos construíram no século 4º, quando Paris, cidade gaulesa, ainda se chamava Lutécia.
É possível que a profusão de opiniões nesse mesmo sentido exemplifique a existência de um forte mito que impeça aos menos entendidos enxergar a verdade.
Mas especialistas locais também conseguem pensar a mesma coisa. "É ainda a seleção que tem as melhores condições técnicas para levar a taça", afirma Raoul Dufourq, um dos editores do matutino esportivo "L'Équipe".
A Folha procurou uma outra opinião, a de uma especialista sobre o que se passa dentro da cabeça dos franceses. Marianne Ysmal é gerente no Ifop (Instituto Francês de Opinião Pública).
Ela afirma existir uma forte e automática associação entre as idéias de Brasil e futebol de excelência. Outros dois ângulos pelos quais, a seu ver, o assunto foi mentalmente metabolizado: a Noruega venceu porque era a condição necessária para sua classificação. Ao fazê-lo, tirou o lugar de Marrocos, país pelo qual os franceses possuem uma forte empatia. É um ex-protetorado, espécie de colônia, da África do Norte.
Para não dizer que a unanimidade é absoluta, foram ontem apenas duas as opiniões dissonantes.
"Estou com o Dunga: a derrota para a Noruega foi muito grave. Demonstra que Zagallo não consegue tirar todo o proveito do mais excepcional dos times presentes por seus valores individuais."
É o que diz Blandine Hennion, do jornal "Libération". Seus colegas fizeram um bolão, e ela não quis "perder dinheiro" apostando cegamente no Brasil.
Também com dúvidas está a proprietária de uma loja de suvenires do número 14 do boulevard Saint-Michel. "Até há quatro dias eu só trabalhava com as cores do Brasil", diz ela. Está agora vestida com uma camiseta da Argentina.

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