São Paulo, sexta-feira, 26 de junho de 1998
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México reage de novo e se classifica com Holanda

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A SAINT-ÉTIENNE

Bem que o técnico da seleção mexicana, Manuel Lapuente, avisou seus jogadores: "Não acreditem em profecias".
Alusão ao fato de que um dos mais célebres adivinhos de seu país havia previsto que a equipe mexicana venceria seu primeiro jogo (acertou), empataria o segundo (acertou de novo), mas perderia ontem da Holanda (errou, deu 2 a 2).
Mais que palavras, no entanto, Lapuente pôs em campo, aos 9min do segundo tempo (a Holanda vencia por 2 a 0), o que se revelaria o seu verdadeiro amuleto: o centroavante Ricardo Peláez, o mais alto da equipe (1m86).
Altura que seria providencial: aos 29min, na cobrança de escanteio, Peláez cabeceou da entrada da área e a bola foi passando por todos os jogadores, até entrar.
"Quando o técnico me disse que eu ia entrar, sabia o que tinha que fazer", disse Peláez após o jogo.
Fez, e os torcedores e jogadores mexicanos passaram a acreditar em outro tipo de bruxaria, a capacidade de virar o resultado, como ocorrera contra a Coréia (de 0 a 1, o México passou a 3 a 1) e contra a Bélgica (de 0 a 2, foi para 2 a 2).
O empate de ontem classificou a Holanda, em primeiro, e o México, em segundo, no Grupo E. Ambos com cinco pontos, com o desempate obtido pelo saldo de gols.
Nas oitavas-de-final, os holandeses vão enfrentar a Alemanha, e o México pegará a Iugoslávia.
Com os quatro minutos de acréscimo, foram 19 minutos de puro coração dos mexicanos, contra uma seleção holandesa que, mesmo surpreendida, continuou jogando como se vestisse fraque, e não camiseta e calção.
Quem ajudou a definir o marcador foi, de novo, o amuleto Peláez. De cabeça, outra vez, ele jogou a bola na entrada da área, o líbero Stam se atrapalhou com a bola e deixou que ela chegasse até Hernández, livre diante do goleiro.
Final da história: o terceiro gol de Hernández na Copa, a segundos do apito final.
Tudo somado, Hernández e Peláez acabaram ofuscando quem deveria ser a estrela da festa, o holandês Dennis Bergkamp, terceiro melhor jogador do mundo, atrás de Ronaldinho e Roberto Carlos.
A estrela até que brilhou logo de saída: aos 4min, do meio do campo, tocou com perfeição para Cocu entrar livre e abrir o placar.
Catorze minutos depois, era a vez de Cocu fazer o passe para Ronald de Boer, na grande área, livrar-se de três zagueiros mexicanos e marcar o segundo.
Ao contrário dos 15 minutos finais, em que o México pressionou a Holanda na base do entusiasmo, os holandeses, durante todo o primeiro tempo, sitiaram os mexicanos em seu próprio campo.
Marcando sob pressão, bloqueavam a saída de bola. A ponto de o zagueiro Davino, aos 29min, ter errado uma tentativa de cruzamento da esquerda para a direita, colocando a bola na cabeça de Bergkamp, na entrada da área.
O holandês desviou para o gol e forçou o espalhafatoso goleiro Jorge Campos, adiantado, a voltar correndo e mandar a escanteio.
Ao começar o segundo tempo, o técnico Lapuente pôs um atacante, Arellano, no lugar de um meio-campista (Luna) e, pouco mais tarde, Peláez, outro atacante, tomou o lugar de um zagueiro.
O México jogava então o tudo ou nada, até porque, àquela altura, a Bélgica vencia a Coréia (1 a 0). Mantidos os dois resultados, os mexicanos estariam eliminados. Mas a história do jogo só mudou após o primeiro gol mexicano, pois a outrora mágica "laranja mecânica" holandesa mostrou-se mais mecânica que laranja, no que esta cor tinha, para a seleção de 1974, de símbolo de futebol alegre.
A alegria desta vez ficou do lado dos mexicanos, que vão além da fase de classificação pela primeira vez na sua história, em Copas disputadas fora do próprio México.

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