São Paulo, sexta-feira, 26 de junho de 1998
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Jota Quest reinventa 'Planeta dos Macacos'

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Banda pop de nome inspirado em personagem de desenho animado, o J.Quest -rebatizado Jota Quest, porque a referência ao herói Johnny Quest estava incomodando a Hanna-Barbera- mira agora o filme e seriado setentista "Planeta dos Macacos".
Seu novo álbum -o segundo, se descontado o CD independente de estréia, 80% reproduzido em "J.Quest" (96)-, "De Volta ao Planeta..." abusa da estética dos homens-macacos na programação visual e na faixa-título, sobre "macacada reunida" num planeta em que "tá faltando emprego".
"Não temos a pretensão de fazer música politizada, mas quisemos falar desse assunto. Ninguém está falando que o planeta está crescendo e que não tem mais nem onde morar", explica o vocalista Rogério Flausino, 26.
"Tenho 26 primos. Os 26 estão desempregados", exemplifica o baterista Paulinho Fonseca, 31. "Somos todos de classe média baixa, e nossos pais nunca estiveram em situação financeira tão ruim quanto agora. Nós é que estamos sustentando nossas famílias", ajuda Flausino.
"Queríamos relacionar a 'macacada' com a desorganização do país, criticar as 'macaquices' dos dirigentes", continua o baixista PJ, 28. "A gente quer mexer com Brasília", acrescenta Flausino.
"Todo mundo está olhando para Marte, para a Lua, nós quisemos olhar para o nosso umbigo", completa o guitarrista Marco Túlio, 27. "Não somos extraterrestres, somos 'intraterrestres'", emenda PJ.
Criada em Belo Horizonte (MG), a banda chamou atenção de mídia e público ("J.Quest" vendeu 100 mil cópias) por fazer, embora formada por cinco rapazes brancos, "black music brasileira".
O primeiro sucesso foi uma releitura de "As Dores do Mundo" (75), de Hyldon, uma das pontas da trindade black brasileira, completada por Tim Maia e Cassiano.
Eles admitem que, do CD anterior para esse, houve uma suavização das características "black". "Tínhamos uma referência mais radical do que era a banda, o caminho black era bem mais radical. Hoje somos uma banda pop com referência forte de black music", define Marco Túlio.
"Resolvemos dar uma passeada por outras áreas, até mesmo do próprio black. O Roberto Carlos dos anos 70, que era bem black, é uma referência importante. Tinha uns solos de guitarra inacreditáveis", afirma Flausino.
A cover, desta vez, mostra também tendência ao branqueamento. Sai Hyldon, entra "Tão Bem", de Lulu Santos. "Fizemos brincando, com um arranjo mais moderno. Não é um clássico daqueles que deixam a gente com medo, foi bom fazer", diz Flausino.
Mas a tecla em que a banda mais gosta de bater é a da experiência de palco. Antes do contrato com a Sony Music, já havia feito mais de 80 shows. Na turnê do disco "J.Quest", fez mais 130.
"Hoje em dia qualquer banda faz o que quiser no estúdio, mas muitas não mostram nada no palco. Isso é o que eu acho mais falso em música hoje", reclama PJ. "Artista que tem show forte tem longevidade, ganha respeito", concorda Marco Túlio.

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