São Paulo, sexta-feira, 26 de junho de 1998
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MPB fecha com sucesso sua quarta noite no evento

CARLOS CALADO
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

A música popular brasileira e o jazz norte-americano convivem desde os tempos de Pixinguinha, na década de 20, mas raramente estiveram tão próximos como no show de anteontem do JVC Jazz Festival, em Nova York.
Batizado de "Brazilian Jazz Ensemble", o programa reuniu os cantores João Bosco e Leny Andrade, o violonista Toninho Horta e o pianista Egberto Gismonti, com suas respectivas bandas, no palco do Avery Fisher Hall.
Durante quase três horas, a platéia nova-iorquina presenciou um rico e diversificado painel das relações da música brasileira com o jazz -desde a bossa nova até o instrumental contemporâneo.
Egberto Gismonti abriu a noite, junto com dois talentosos parceiros que o acompanham desde os anos 70: Zeca Assumpção (contrabaixo) e Nando Carneiro (teclados). Tocando somente composições próprias, o pianista carioca comandou uma apresentação tão curta quanto impactante.
A performance do trio revelou não apenas uma coesão musical quase telepática, mas também demonstrou como o improviso do jazz e a bagagem harmônica da música erudita coexistem de modo criativo no universo sonoro de Gismonti. Um grupo como esse tem passagem garantida em qualquer festival de jazz do mundo.
Única representante da geração da bossa nova no concerto, Leny Andrade elevou mais ainda a temperatura. Muito bem acompanhada por seu trio, já entrou cantando uma suingada seleção de samba-jazz, devidamente temperada por uma exibição de "scat" (improviso com onomatopéias).
Em seu número de maior efeito, a cantora homenageou Tom Jobim. Curiosamente, escolheu a mesma canção que Gal Costa cantara na véspera: "Dindi". Numa abordagem mais dramática, utilizando ao máximo os graves de seu privilegiado vozeirão, Leny arrancou gritos da platéia.
Esperta, a cantora fechou sua apresentação com um clássico do jazz moderno: "Night in Tunisia". A composição do trompetista Dizzy Gillespie ganhou uma versão com molho de samba, que incluiu outra deliciosa sessão de scat à capela (sem acompanhamento instrumental).
Aplaudida de pé pela platéia (com mais norte-americanos do que brasileiros nessa noite), Leny provou que não deve nada às grandes cantoras do jazz.
A atração seguinte da noite brasileira foi Toninho Horta, que depois de gravar pelo selo norte-americano de jazz Verve é mais conhecido da platéia local.
Antecipando seu próximo disco, o músico mineiro também homenageou Tom Jobim, acompanhando-se ao violão. Pediu que a platéia estalasse os dedos para acompanhá-lo em uma releitura personalíssima de "Amor em Paz".
Já ao lado de sua banda, que incluiu Lena Horta (flauta) e os norte-americanos Mark Egan (baixo) e Billy Drews (sax), Horta comandou uma bela versão da balada "Stella by Starlight". O inusitado sabor mineiro da interpretação agradou bastante à platéia.
Fechando a noite, João Bosco entrou no palco com uma pequena seleção extraída do primeiro time de instrumentistas brasileiros: Nico Assumpção (baixo), Ricardo Silveira (guitarra), Robertinho Silva (bateria) e Armando Marçal (percussão).
O cantor abriu seu show com dois números de impacto. "Incompatibilidade de Gênios" mostrou Bosco improvisando sobre a letra original e Robertinho e Marçal dando uma exibição especial com tamborins. Em seguida, veio "Zona de Fronteira", revisitada em andamento frenético, novamente com muita liberdade nos improvisos da sessão rítmica.
Para seu fã-clube, Bosco não negou uma seleção de seus hits, que inclui "Desenho de Giz", "Papel Marchê" e "Corsário" -todas recheadas de scats.
Depois de quatro noites, com ótima frequência de público, a música brasileira fecha sua participação no JVC Festival com saldo bastante positivo. A MPB invadiu de vez a praia oficial do jazz.

O jornalista Carlos Calado viajou a convite da JVC do Brasil e da United Airlines.

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