São Paulo, sexta-feira, 26 de junho de 1998 |
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China recebe Clinton com dança e prisões
TERESA POOLE
Ontem à noite, na antiga capital imperial de Xian, 800 atores chineses vestindo figurinos típicos dançaram sobre a antiga muralha da cidade, brilhantemente iluminada, festejando Bill Clinton no estilo de um imperador da dinastia Tang. Horas antes havia sido anunciada a prisão de três dissidentes de Xian. Assim é o campo minado diplomático pisado por Clinton. O presidente norte-americano voou para a cidade de Xian (oeste) já "aquecido" pelas controvérsias que marcaram os preparativos para sua visita de Estado, prevista para durar nove dias. Depois de ser presenteado com a chave da cidade, o presidente deu seus primeiros passos cautelosos no campo minado com um discurso no qual procurou agradar tanto a seus anfitriões quanto a seus críticos nos EUA. Mas a cerimônia de ontem à noite envolveu mais teatro e pompa do que política, tanto para o visitante quanto para os anfitriões. A escala das festividades indicava a importância atribuída na China a essa visita de Estado, a primeira de um presidente americano desde a repressão contra os manifestantes pró-democracia desarmados na praça Tiananmen, em junho de 1989. Mulheres em longas vestes diáfanas abriram o caminho quando Clinton e sua mulher, Hillary, fizeram sua "longa marcha" por metros e metros de tapete vermelho. Ao lado do portão sul da velha muralha da cidade, dançarinos e músicos apresentaram um espetáculo extravagante e bem ensaiado, com quantidades abundantes de gelo seco dando um toque moderno a uma cerimônia antiga. A escolha de Xian como primeira parada de Clinton resultou de um cálculo logístico cuidadoso, tendo em vista que a história antiga oferece um território mais seguro do que o diplomaticamente traiçoeiro presente. Depois dos discursos iniciais, as primeiras 24 horas de Clinton na China foram planejadas para que fossem livres de política. A visita dessa manhã ao vizinho povoado "modelo" de Xia He, seguida por um passeio pelos mundialmente célebres soldados de terracota, esculpidos há 2.000 anos em tamanho natural, vai render exatamente o tipo de imagem que tanto Clinton quanto seus anfitriões chineses querem ver sendo transmitidas aos EUA. Só amanhã de manhã é que Clinton participará do evento mais passível de gerar controvérsias: a cerimônia formal de boas-vindas políticas do presidente Jiang Zemin, à beira da praça Tiananmen. O horário foi escolhido para não coincidir com os principais noticiários da TV dos EUA. Já a cobertura da visita de Clinton pela mídia chinesa controlada pelo Estado vai funcionar como teste da redução experimental da censura observada nos últimos meses. A principal rede de TV estatal não transmitiu imagens ao vivo da chegada de Clinton, mas uma TV a cabo o fez. Três pessoas que certamente não assistiram à transmissão são os dissidentes de Xian detidos antes da chegada do presidente. Um deles, Yan Jun, foi uma das 70 pessoas que, no fim-de-semana passado, assinaram uma carta aberta exortando Clinton a reunir-se com a família de uma das vítimas de junho de 1989. Tradução de Clara Allain Texto Anterior: Rede monitora todo o planeta Próximo Texto: Presidente teve treinamento para evitar gafes Índice |
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