São Paulo, domingo, 28 de junho de 1998
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Apesar da crise, cresce o comércio mundial

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Apesar da crise asiática, em 1997 o comércio mundial não apenas cresceu como bateu um recorde de alta (de quantidades vendidas) em mais de 20 anos (dados da Organização Mundial do Comércio).
O volume de exportações cresceu mais que o PIB desde o final dos anos 80, e em geral essas duas coisas andam na mesma direção.
Para cada economia, parece que o principal fator explicativo de suas vendas externas continua sendo, muito simplesmente, o nível de demanda do resto do mundo. O problema, para boa parte das economias da periferia, é que os preços de suas mercadorias caíram. Ou seja, os volumes vendidos podem ter aumentado, mas a preços declinantes.
Neste ano celebra-se o cinquentenário da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal). A rigor, a Cepal ganhou celebridade exatamente porque seus estudos mostravam, no final dos anos 40, que os países da periferia jamais conseguiriam superar o atraso porque havia uma deterioração de seus "termos de troca", ou seja, da relação entre os preços dos produtos que exportavam e os de produtos que precisavam importar.
Essa tendência à erosão competitiva dos preços de produtos primários servia como base para a defesa de políticas de industrialização.
Agora, 50 anos depois, o fenômeno continua atual, e a periferia, quando diminui o atraso, não alcança o Primeiro Mundo.
Entretanto, a tese cepalina da industrialização pode não estar totalmente equivocada. Veja-se a Ásia. A turbulência continua e ninguém se arrisca mais a dizer quando estará superada. Mas já é possível dizer que erraram os analistas que previram o colapso total daquelas economias e a virtual paralisação de seu comércio exterior, por falta de financiamento.
Ainda segundo a OMC, mesmo que em 1998 ocorra uma queda de 25% na taxa de crescimento da economia mundial, a expansão mundial do comércio ainda ficará acima da média registrada no início dos anos 90.
É nesse ponto que entra em ação a visão da Cepal. Se o comércio mundial de fato mantiver esse dinamismo, sairão antes da crise os países exportadores de matérias-primas ou os mais industrializados, com tecnologias mais avançadas e mais integrados às empresas do Primeiro Mundo?
Aliás, é igualmente importante notar que o comércio de manufaturas cresceu a taxas superiores às do comércio global, apesar das quedas de preços que também as afetaram.
Peso asiático
Os dados da OMC, comandada por Renato Ruggiero, parecem indicar que, se não houver um colapso financeiro maior, o ciclo de recuperação poderá ser mais rápido que o hoje esperado. Tem havido exagero na avaliação do impacto da crise asiática no lado real da economia mundial. A OMC lembra que os cinco países mais afetados pela crise asiática (Coréia, Malásia, Tailândia, Indonésia e Filipinas) têm um peso de no máximo 7% no comércio mundial.
Conclusão: o perigo maior está no contágio financeiro, não no estritamente comercial.
Se as operações de socorro global continuarem, a profundidade da crise pode diminuir. Resta saber se há no mundo fundos oficiais suficientes para socorrer tantos bancos, países e regiões.

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