São Paulo, domingo, 28 de junho de 1998
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Calma, a Copa só vai começar agora

CLÓVIS ROSSI

Que o Brasil tenha passado pelo Chile não me surpreende tanto como o fato de que muita gente, na mídia e na torcida, tenha levantado a hipótese de que a seleção tupiniquim pudesse ser derrotada.
Não que seja impossível perder do Chile ou de quem quer que seja. Tanto que o Brasil perdeu da Noruega, que jogou, em toda a fase de classificação, bem menos que o Chile.
O fato é que, de cada dez partidas que o Brasil jogar com o Chile, ganhará nove. Nada impediria, óbvio, que o jogo da derrota, o décimo, fosse justamente ontem, mas prefiro sempre confiar na lei das probabilidades.
É por essa lei, testada e aprovada ontem outra vez, que dá para dizer que a Copa, para o Brasil, começa mesmo agora.
Acabaram-se os Marrocos, Escócias e Chiles, com todo o respeito por esses países e também pelo futebol que jogam. Mas a distância entre eles e o Brasil, no campo de jogo, é ainda imensa. Como continua sendo imensa a distância entre o Brasil e a Noruega, apesar da derrota de terça-feira.
Doravante, no entanto, a lei das probabilidades já não pode merecer fé absoluta e cega.
Começa pela Nigéria, favorita para vencer a Dinamarca hoje e, portanto, para enfrentar o Brasil nas quartas-de-final. Basta lembrar que os nigerianos derrotaram o Brasil nos Jogos Olímpicos de Atlanta (com Romário e tudo, convém sempre mencionar).
Ganharam, ali, certidão de maioridade, até porque venceram depois também a Argentina.
São imprevisíveis a ponto de um de seus jogadores, já não me lembro qual, ter dito antes da Copa que tanto poderiam ganhar de todos como perder de todos. Seria uma frase óbvia, não fosse, acima de tudo, a confissão explícita de que o time é mesmo instável, até quando analisado pelos próprios jogadores, obrigados ao otimismo ao menos de público.
Mesmo que o adversário seja a Dinamarca, que se arrasta em campo, as dificuldades tendem a ser maiores ou, no mínimo, parecidas com as que o Brasil encontrou contra a Noruega.
Depois, em tese, será a Argentina e, aí, entra-se definitivamente no terreno do imponderável. A memória da derrota brasileira em pleno Maracanã deve estar ainda fresca o suficiente para que se admita que os argentinos são até levemente favoritos.
Mesmo porque foram superiores aos brasileiros na média das três partidas de classificação, apesar da chocha exibição contra o Japão na estréia.
Prova-o o fato de que criaram com sua torcida, tão exigente como a brasileira, uma empatia que não houve, até agora, entre os jogadores brasileiros e seus torcedores. Depois, é a final, sujeita a chuvas e trovoadas, como qualquer final.
Em outras circunstâncias, faria um sumário bem mais otimista, para o Brasil, do que ainda vem pela frente. Afinal, desde que venceu o prazo de validade da geração Zico/Sócrates/Júnior e cia., não aparecia outra com tamanha quantidade de jogadores de excelência.
Basta lembrar que os dois melhores jogadores do mundo na atualidade, Roberto Carlos e Ronaldinho, atuam pelo Brasil. Só os dois já deveriam compor um extraordinário fator de desequilíbrio, pró-Brasil. Pena que nem mesmo após a vitória contra o Chile se possa ter a segurança de que o Ronaldo do Brasil será o Ronaldo do Barcelona ou da Inter e que o Roberto Carlos de camisa amarela será o Roberto Carlos de camisa branca, campeão europeu de clubes pelo Real Madrid.

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