São Paulo, domingo, 28 de junho de 1998 |
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Francês aplica golpe em índios
MALU GASPAR
Ao descobrir que o projeto, intitulado "Indiana Foot 98", era uma farsa, que envolveu também a Funai (Fundação Nacional do Índio) e a Embaixada da França no Brasil, os índios chegaram pensar em suicídio, abalados com o que consideraram uma traição. O time encerrou os treinos assim que a Copa começou, e os jogadores viajaram de volta para suas tribos, desativando o Centro de Treinamento montado num sítio em Ibiúna (70 km a oeste de SP). O preparador técnico, Elvandir Noronha Júnior, conta que, antes de voltar para as aldeias, os índios fizeram um ritual de despedida, que nas tribos só é feito quando alguma coisa triste acontece. O campeonato foi apresentado por uma ONG francesa (Homme Nature Production), representada pelo pesquisador François Xavier Pelletier, em março passado. Foi ele quem visitou a Funai (Fundação Nacional do Índio) e pediu autorização para os índios participarem do projeto, além de pedir a colaboração do coordenador da ONG brasileira Indi (Instituição de Desenvolvimento dos Povos Indígenas), Emídio Barros Filho, que formou o time em 1994. A proposta era de levar cerca de 90 índios para a França, para jogar em amistosos com times da segunda divisão durante a Copa. Para isso, trouxe documentos e cartas da Embaixada da França no Brasil e cartas de recomendação do governo francês. A Indi montou o CT e, com a ajuda de uma voluntária, pagou até as despesas de hospedagem de Pelletier, que viajou com uma acompanhante. A decepção entre os índios, vindos de tribos onde não se permite a mentira, se justifica. Nos três meses de treinamento, os 30 índios de 13 etnias diferentes que fazem parte da seleção passaram por um rígido treinamento. Durante a preparação, seis índios foram excluídos por problemas com álcool. Os colaboradores brasileiros e a comissão técnica decidiram mandar os índios de volta às aldeias. "Ficamos com medo que acontecesse algo pior, porque eles estavam deprimidos e agressivos", disse o técnico, Noronha Júnior. A colaboradora do projeto, a descendente de índios Sandra Eli de Melo, investiu R$ 37 mil nos treinamentos, segundo ela. Agora, está com a casa hipotecada. Pelletier parou de telefonar para o Brasil. Um dia antes de a Copa começar, ainda o procuravam, mas ele havia sumido. Texto Anterior: Calma, a Copa só vai começar agora Próximo Texto: Patrocinadores do projeto acumulam dívida de R$ 127 mil Índice |
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