São Paulo, domingo, 28 de junho de 1998
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Goleiro Schmeichel é o pianista da Dinamarca

Folha - A seleção da Dinamarca protestou contra a arbitragem, que teria ido mal em seus jogos na primeira fase. Os diferentes critérios usados pelos árbitros, bem como alguns erros cometidos, viraram uma das maiores polêmicas deste Mundial. Como você vê esta situação?
A federação dinamarquesa de futebol tomou todas as providências cabíveis. Mandou um protesto para a Fifa, fez o que achou ser necessário.
Não cabe a nós, jogadores, ficar comentando este tipo de assunto. Para nós, o momento é de pensar apenas nas oitavas-de-final.

Folha - A Nigéria entra como favorita contra a Dinamarca pela campanha que fez na primeira fase. Você concorda com isso?
Não concordo, nem discordo. Só acompanhei o primeiro jogo deles (vitória de 3 a 2 sobre a Espanha), e a Nigéria me agradou. Mas não conheço bem o time deles, os jogadores, fica difícil responder quem vai ganhar.

Folha - Na concentração da seleção da Dinamarca, o vinho não só não é proibido, como até é incentivado. O que há de diferente no reino de vocês?
Não sei porque não conheço as outras concentrações (risos). Não, na verdade a nossa deve ser diferente mesmo...
Nós treinamos muito duro, até exageramos um pouco, o que causou um certo problema, cansaço físico e mental.
Mas estamos num local paradisíaco (Saint-Cyr-sur-Mer), com vista para o mar, caminhamos diariamente, conversamos, vemos TV, brincamos, eu, pelo menos, escuto muita música e à noite toco piano para relaxar.

Folha - Você é o "concertista" oficial da sua seleção, animando as noites dos jogadores com música clássica. Às vezes, passa até quatro horas tocando para os seus companheiros na concentração. Quando você aprendeu a tocar piano?
Quando criança. Meu pai era músico, tocava desde cedo, na Polônia, foi meu grande incentivador. Cheguei até a pensar em seguir uma carreira artística, gosto muito de jazz, mas tive uma formação mais clássica.
Como gostava muito de futebol também e sou melhor no gol do que no piano, optei pela vida no esporte.

Folha - Você tem muitos CDs?
Meu quarto está cheio deles. Tenho um gosto bastante eclético, mesmo dentro da música clássica.
Gosto muito de Rachmaninov (russo, neoromântico), Bach (alemão, barroco), Prokofiev (russo, moderno)... Escuto sempre antes de dormir. É uma coisa que acalma os nervos. E eu sempre fui muito tenso.

Folha - Tenso?
É, inclusive dentro do campo. Quando mais jovem, eu era ainda mais estourado, mas atualmente consigo controlar melhor as minhas emoções.

Folha - Como jogador que mais atuou na seleção dinamarquesa, quantos jogos mais você acha que farão na Copa?
Estamos fazendo o necessário. Não jogamos bem até agora, falhamos nos três primeiros jogos.
Eu mesmo errei na derrota (2 a 1) para a França, mas traçamos um plano de nos classificar e nos classificamos.
Temos praticado um futebol feio, é verdade, mas prático.
Contra a Nigéria acho um pouco mais difícil, embora seja um jogo exótico, porque são duas escolas muito diferentes.
Se não entrarmos na correria deles e mantivermos nosso padrão de jogo, podemos passar para as quartas-de-final.
A Dinamarca de hoje é diferente da de 1986, que chamou a atenção do mundo todo pela campanha na primeira fase, mas depois caiu frente à Espanha (surpresa daquela Copa, a seleção foi apelidada de "Dinamáquina").
Não é um time tão talentoso, mas espero que seja mais eficiente. E talvez com os espanhóis, os algozes dos dinamarqueses no futebol, já eliminados, a história seja diferente desta vez. Nunca se sabe...

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