São Paulo, domingo, 28 de junho de 1998
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Cidades se despedem da Copa-98

JOÃO BATISTA NATALI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

Prefeitos que não abrigaram torcidas violentas, como a inglesa e a alemã, comemoram benefícios trazidos pelo Mundial

Lens, com seus 35 mil habitantes, dificilmente sentirá saudades do Mundial. Os hooligans alemães há uma semana estragaram sua festa. Os ingleses tentaram fazer o mesmo anteontem. Não será fácil dissociar sua imagem da dessa espécie de terra de ninguém, entregue à violência de torcidas.
Ela também será a primeira das cidades a concluir sua participação. Assiste, hoje à tarde, com França e Paraguai, a sua última partida. Ao fim dela, começa também a terminar o nomadismo de seleções que marcou a primeira fase da atual Copa do Mundo.
Amanhã à noite será a vez da despedida de Toulouse, com Holanda e Iugoslávia. Das dez cidades de início escaladas, só quatro terão jogos a partir das quartas-de-final.
Ninguém gosta de colocar na cabeça o boné dos fracassados. Com Lens acontece o mesmo. A cidade ao norte da França, primeiro empobrecida pelo fechamento das minas de carvão, esforçando-se hoje para recuperar a prosperidade com empresas de alimentos, diz que a Copa foi um bom negócio.
A prefeitura, consultada pela Folha, mencionou os R$ 80 milhões que recebeu em obras públicas. Além da reforma do estádio, que a rigor não tem valor estratégico, o Ministério dos Transportes conectou sua zona urbana com a estrada mais próxima.
O serviço de turismo não quis informar sobre os efeitos do hooliganismo no cancelamento de reservas de hotéis. A previsão inicial era a de que, para os seis jogos, não sobraria um único quarto vazio numa área de 25 quilômetros ao redor do estádio Félix Bollaert.
Nantes, com seus 252 mil habitantes, despede-se da Copa com mais uma partida, nas quartas, mas sem histórias tristes de hooligans para contar à posteridade.
Ainda não sabe se, só em hotelaria e restaurantes, faturou algo próximo do mínimo de R$ 16 milhões ou do máximo de R$ 50 milhões de seus cálculos iniciais.
Foram a Nantes, em todo caso, 96 mil torcedores que permaneceram na cidade apenas algumas horas ou nela se hospedaram por três dias ou mais.
Bem mais precisas são as contas sobre as festividades locais, como o carnaval e a "Copacabana" preparados para a torcida brasileira, na véspera do jogo contra Marrocos. O conjunto de seis festas custou R$ 12 milhões. Mas os patrocinadores locais ou nacionais acabaram cobrindo 75% disso.
Duas outras cidades, Lyon (422 mil habitantes) e Bordeaux (214 mil) têm um bom cacife econômico e projeção nos países da União Européia. Não precisavam hospedar jogos da Copa para manter suas imagens em evidência.
Nas duas prefeituras, o que a Folha ouviu foi a sorte que ambas acreditam ter tido por não terem se exposto a torcidas exaltadas.
Raymond Barre, ex-primeiro-ministro da França e hoje prefeito de Lyon, quer atrair investimentos para mudar a feição do sul empobrecido da cidade. O hooliganismo poderia assustar os investidores. Passaria a idéia -que acabou prejudicando Marselha- de que a decantada "ordem pública" é uma mercadoria em falta.
Os assessores do prefeito estão de todo modo felizes com a Copa. As imagens de TV deram, segundo eles, uma idéia de que a cidade não se limita à boa comida, à seda que fez sua prosperidade no Renascimento e à ópera que grava mais CDs que a rival Ópera de Paris.
Saint-Etienne (200 mil habitantes) também acha que saiu lucrando em termos de imagem, mas junto ao público interno da França. Nos anos 80, a cidade entrou no noticiário pela porta negativa da falência de grupos industriais.
Uma pesquisa que a prefeitura fez na época demonstrou que, para os franceses, era uma região urbana de prédios escuros, desprovida de charme e com pouca área verde. O que não é verdade.
Saint-Etienne saiu ganhando mais pelo fato de ter recebido com a Copa algumas melhorias -trens mais modernos para Lyon, um novo trecho de estrada- e receitas com hotéis lotados.
Montpellier (210 mil habitantes), mais ao sul no mapa francês, também insiste na imagem positiva com que está saindo da Copa.
A prefeitura considera como um de seus sucessos um programa de visita da mídia a empresas com tecnologia de ponta. Visitas que ocorreram há alguns meses, na apresentação dos locais dos jogos.

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