São Paulo, domingo, 28 de junho de 1998
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Paris vira hoje 'sambódromo'

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

Hoje, o Arco do Triunfo do Carrossel do Museu do Louvre, ponto turístico dos mais visitados e um dos orgulhos parisienses, vira a concentração. O Jardim das Tulherias, em frente, será o sambódromo. E a Place de la Concorde, no outro extremo, fica desde já alçada à condição de apoteose.
O percurso acima, no coração de Paris, é o de uma escola de samba brasileira. A obra é de Joãosinho Trinta, que apresenta, a partir das 19h, o desfile "O Mundo é uma Bola", com a École de Samba, que ele montou trazendo o dream team do samba carioca.
O carnavalesco da Viradouro foi o autor do projeto, que recebeu apoio dos governos francês e brasileiro. Quando soube da data finalmente marcada para o desfile, um dia após o jogo de ontem, não chegou a se preocupar se o Brasil iria vencer ou perder.
"Eu faria a festa de qualquer jeito", disse Joãosinho Trinta, que espera ter na "avenida" improvisada 1.500 foliões e pelo menos o dobro assistindo ao largo.
Apesar de ter colocado Valéria Valenssa nua como destaque do carro abre-alas A Bola, dentro de uma esfera gigante transparente, Trinta disse pretender fugir do chavão. "Quero mostrar aos franceses que samba é cultura, não um bando de loucos, com mulheres de bunda de fora e oba-oba. Nosso samba é uma ópera de rua."
A presença da globeleza chegou a causar alguma dor de cabeça: a parte francesa da organização não queria nudez explícita -ópera de rua ou não, o desfile ocorre a menos de 200 metros da Mona Lisa e de milhares de turistas dominicais. O impasse foi resolvido com uma demão extra de tinta e strass nos seios e no sexo da dançarina.
Além dela, confirmaram presença a atriz e modelo Luma de Oliveira, que será a madrinha da bateria, a cantora Fernanda Abreu, Nelinho, irmão do jogador Ronaldo, e a atriz Cristina Reali.
O enredo é idéia de Trinta, realizada por Gilberto Gil. Samba do carnavalesco doido, diz que o futebol surgiu na Grécia, Japão e China, assim como entre os astecas e os índios brasileiros.
O custo total da história é de cerca de US$ 1,5 milhão. Até ontem, Trinta ainda suava a camisa atrás dos últimos US$ 200 mil. "Muito empresário brasileiro, que eu não vou dizer o nome, mas deveria, deu para trás na última hora."
Houve ecumenismo na composição da École. A porta-bandeira será Selminha Sorriso, da Beija-Flor, e Claudinho, seu parceiro mestre-sala. A bateria está nas mãos de Mestre Jorjão, da Mocidade, à frente de 35 cariocas importados e 15 locais. Puxando o samba, o músico Dominguinhos.
"É a seleção brasileira do samba", afirmou Isa Cortês, assistente de produção. Há até um legítimo barracão, montado próximo à torre Eiffell.
Se isto significa alguma coisa, no ensaio de sexta de manhã, as já tradicionais ciganas do leste europeu que ficam sob os arcos em frente ao Louvre pedindo esmola e lendo a mão dos passantes, sempre soturnas e de cara fechada, largaram a freguesia e -digamos que este não é bem o termo- caíam no samba, para espanto dos seguranças do museu.

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