São Paulo, domingo, 28 de junho de 1998
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Socióloga atrás das grades

CIBELE BARBOSA

Maria Silvia Rudgi Furtado, 45, é formada em sociologia pela Unicamp, esportista, católica e mãe de quatro filhas. Seu perfil é muito diferente da maioria das mulheres presa por tráfico. Mas, segundo sua própria avaliação, seu grande erro foi ser conivente com os crimes do marido.
Presa há um ano na Cadeia Feminina de Altinópolis (370 km de SP), ela foi pega com 150 g de maconha, enquanto seu marido, que realmente vendia drogas, está foragido.
Maria Silvia conheceu e apaixonou-se "à primeira vista" por Guilherme Augusto Monteiro na década de 70. Os dois eram militantes de esquerda e participaram juntos de vários protestos contra o regime militar.
Formada na Unicamp -e ex-aluna de um curso sobre política e desenvolvimento na América Latina dado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso ("fui uma das poucas alunas que tirou nota dez na prova dele"), Maria Silvia conta que sempre fumou maconha, mas nunca foi viciada ou traficante.
Depois de apenas dois meses de namoro com Guilherme, já estava grávida de sua primeira filha, hoje com 21 anos. O casal foi morar em Ribeirão Preto e sobrevivia vendendo artesanato em couro. Foi nessa época, segundo Maria Silvia, que o marido começou a vender drogas. "Ele comprava e repassava para pessoas conhecidas. Era mais para pagar o nosso próprio consumo", conta.
Aos poucos, Guilherme foi se envolvendo com cocaína e outras drogas. Começou a ficar agressivo, foi preso uma vez e ela ameaçou abandoná-lo. "Mas acabei cedendo por amor", diz a socióloga, que já tinha dado à luz a mais três meninas.
A crise no casamento e uma doença (um câncer de pele operado com sucesso) levaram Maria Silvia para a religião e o esporte: tornou-se católica, começou a praticar ciclismo e entrou para o grupo "Atletas de Cristo".
Ela diz que ajudou o marido a fugir, quando soube da existência de um mandado de prisão judicial contra ele, e desde então mantém contatos "secretos" com ele. Suas filhas moram sozinhas em Ribeirão Preto, sustentadas pelos pais de Maria Silvia (um advogado e uma química). A socióloga, se tiver sorte, deve ser libertada em seis meses.
"Só espero poder sair daqui para retomar a minha vida. Quero ficar com as minhas filhas e posso dizer que aprendi muito aqui. Acho que não tem mais volta com o Guilherme."

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