São Paulo, terça-feira, 30 de junho de 1998
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Então, viva o Ratinho

JANIO DE FREITAS

O importante, andaram dizendo por certo tempo, é competir. Não podia pegar. Era corretinho demais para o animal a que se destinava.
Venceu e ficou, autocomprovando-se, a idéia de que o importante é vencer.
É uma sentença muito confortável. Além de dispensar maiores reflexões para entender a derrota e a vitória, dispensa coisas muito mais importantes.
Pois não é mais do que uma versão camuflada do princípio de que os fins justificam os meios.
Vencer, o Brasil venceu o Chile. A França venceu o Paraguai. A Itália venceu a Noruega. A Alemanha venceu o México.
Apesar disso, só a Noruega, dentre esses oito, mostrou futebol, mesmo quando acabou excluída.
A norma tem sido a decepção com os times dados, antes de começar a Copa, como favoritos para conquistá-la.
O Brasil, pelo que foi noticiado há dois dias, até continua como favorito na bolsa internacional de apostas em Londres, mas não há motivo para crer que isso não se deva ao mau desempenho dos outros favoritos.
Os apostadores jogam com o que o Brasil tem jogado: sorte e um ou outro momento de brilho individual. A sorte, porém, ameaça com inesperada fuga, e em má hora.
A vitória esplendorosa da Dinamarca sobre a Nigéria foi um mau resultado para o mau futebol do time brasileiro.
A displicência individual dos nigerianos, a facilidade com que a equipe se desorganiza, a decorrente incapacidade de manter uma tática, tudo isso era favorável aos lampejos do talento brasileiro.
Além de reduzir o risco de exploração planejada das deficiências que o time continua mostrando, como se nem tivesse técnico (a grande modificação técnica, de um jogo para o outro, é se o Dunga grita ou não grita).
Os dinamarqueses mais do que jogaram futebol: exibiram futebol. Individual e coletivamente. Um futebol ofensivo e com uma defesa bem estruturada, alguns jogadores com talento à brasileira e todos com um sentido de conjunto absoluto.
Se o mito do futebol brasileiro não os instabilizar, a sorte terá que proteger o Brasil, muito mais até do que ao lhe dar vitória com gol contra do adversário.
Se o importante é vencer, e o Brasil venceu na medida necessária, cobrar qualidade da seleção brasileira, ação do Zagallo, enquadramento de jogadores, foi até aqui uma aberração.
E para comprovar o acerto da tese de que o importante é vencer, como o Brasil tem vencido, aplauda-se e admire-se o Ratinho: é um símbolo da tese de que o importante é vencer, e um dos grandes vitoriosos do Brasil moderno.

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