São Paulo, terça-feira, 30 de junho de 1998
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JAPÃO, ILHA E TERREMOTOS

Duas imagens populares ganharam força a propósito do Japão: a de ilha e a de país de terremotos. Como ilha (a rigor, um arquipélago), o Japão manteve-se por séculos isolado de influências externas. Como área sujeita a terremotos frequentes, os japoneses formaram-se como uma nação sempre preparada para enfrentar adversidades. As duas imagens parecem pelo menos servir como metáforas para quem observa o desenrolar da crise asiática.
Como ilha, o Japão resiste às pressões ocidentais, em especial as norte-americanas, por maior abertura dos seus mercados e reestruturação de seu sistema financeiro.
Acostumados a conviver com terremotos praticamente diários, os japoneses parecem apenas estar esperando pelo pior quando se trata do terremoto financeiro na região.
Desde o ano passado, o Japão mantém-se relativamente passivo diante do colapso cambial de seus vizinhos. Em alguns momentos, pareceu até mesmo interessado numa desvalorização contínua do iene. A economia japonesa está em recessão e uma retomada exportadora poderia ajudar a criar empregos, ainda que à custa de uma desestruturação maior da rede produtiva que os próprios japoneses armaram em toda a região.
Para alguns observadores, a China surge como o potencial novo líder regional. Mantendo-se firme no compromisso com a estabilidade cambial e abrindo seus mercados aos investidores estrangeiros, poderá até tentar substituir o Japão como dínamo do desenvolvimento asiático. A demorada visita do presidente dos EUA, nesta semana, já dá uma noção da importância geopolítica que a China assume neste final de século.
Mas o Japão já enfrentou crises graves, como o choque do petróleo nos anos 70. Soube identificar interesses nacionais, estabelecer prioridades e superar as dificuldades.
O jogo do poder na Ásia está em aberto e o Japão, país-ilha habituado a adversidades naturais e econômicas, ainda poderá surpreender.

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