São Paulo, terça-feira, 30 de junho de 1998
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O PROGRESSO E A PESTE

As notícias mais recentes a respeito da epidemia de Aids são curiosa e paradoxalmente tristes. Por um lado, o avanço do conhecimento científico sobre a doença é espetacular. E o enorme investimento de cérebros e recursos na pesquisa não permitiu apenas a descoberta de terapias que aumentam a qualidade de vida e a resistência de doentes e infectados.
Também importante, as pesquisas sobre o HIV possibilitaram o conhecimento minucioso do sistema imunológico, o complexo arsenal de defesa do organismo contra doenças. Assim, o estudo da Aids auxilia o conhecimento de outras infecções.
Mas há um lado nada brilhante em toda essa luta. O progresso científico é acompanhado de uma impressionante expansão da doença. Há dois anos, no mais importante encontro científico sobre a Aids, se anunciavam os bons resultados da terapia antiviral tríplice, o coquetel de drogas anti-Aids, que no entanto não podia conter a epidemia. Também em dois anos, os infectados passaram de 20 milhões para 30 milhões.
O coquetel era a grande esperança de doentes, médicos e pesquisadores. Havia a expectativa de que essa terapia eliminasse o vírus. Não elimina, não funciona em alguns pacientes e é cara. Mas, para o doente de Aids, esse tratamento pode significar a chance de esperar por mais tempo uma terapia mais efetiva.
Mas, por ora, o instrumento mais eficaz contra esse mal ainda é a prevenção. Programas educativos têm feito com que a velocidade de expansão da Aids diminua, o que ocorreu no Brasil, objeto de elogios por parte de organizações mundiais. Até em países muito pobres, como Uganda e Senegal, percebeu-se que a educação produz resultados. Esse não foi o caso, no entanto, da maior parte da África, da Ásia e Europa Oriental.
Embora o progresso científico seja animador, ele ainda não é decisivo. Durante algum tempo, a doença ainda será terrível para aqueles que se contaminem e os tratamentos serão custosos e mesmo inatingíveis para a maioria dos doentes, que vivem em países pobres. Infelizmente, a prevenção continua a ser a maior arma contra essa peste do século 20.

Texto Anterior: JAPÃO, ILHA E TERREMOTOS
Próximo Texto: 20 ou 12 anos de poder?
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.