São Paulo, domingo, 5 de julho de 1998
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Convivência na empresa fica difícil

Mulher sofre com dupla jornada

VINÍCIUS PRECIOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Na maioria dos casos, quando o casamento termina, fica difícil para o casal continuar trabalhando -e convivendo- junto.
"Logo que sai a separação, as duas partes querem um tempo para refletir sobre o que aconteceu, e o contato visual atrapalha nessas horas", explica o dono de um minimercado no interior de São Paulo, que não quis revelar seu nome.
Além do mercado, ele e a ex-mulher tinham uma padaria em sociedade. Os dois estão separados há três meses e ainda não fizeram a divisão dos negócios.
Segundo a advogada Norma Kyriakos, membro do conselho consultivo da mulher da OAB-SP, algumas alternativas para o casal que se divorcia e não quer trabalhar mais junto são: acabar com a sociedade ou que um deles venda sua parte no negócio.
"A separação dificilmente se dá em bons termos. Sempre há algum problema", afirma Norma.
"O casal acumula muitas frustrações, que explodem no momento do divórcio. Fica difícil fechar um acordo para dividir os bens." Nos últimos dois anos, a advogada só viu um caso em que o casal chegou a um acordo amigável.
Para Norma, na maioria das vezes, a mulher sai prejudicada. "Elas não se preocupam em preservar direitos, sempre acham que tudo está bem, que o casal vai continuar para sempre junto."
A mulher também sofre com a dupla jornada. "Muitas vezes, ela tem de cuidar da casa e do negócio", explica Norma. Esse é o caso de Sonia de Oliveira, 41, proprietária da Czaryna Cabeleireiros.
Em fevereiro de 96, ela e o então marido, Celso de Freitas, 34, abriram o salão. "Eu fazia os cortes, e ele cuidava da parte administrativa." Hoje, ela tem dificuldade de tocar o negócio sozinha.
"Meu ex-marido fazia a divulgação, trazia novos clientes e pagava as contas. Às vezes, não me sobra tempo para fazer essas coisas", conta Sonia.
A separação de Sonia e Freitas foi tranquila. Ele abriu mão da parte dele na empresa e hoje é motorista de táxi. "O maior problema de trabalhar junto é que um acaba invadindo a privacidade do outro", conta o marido.
Mediador
Um conselho de Freitas para os casais é ter sempre por perto uma terceira pessoa no negócio.
"Pode ser até outro sócio, mas que funcione como um mediador na hora das decisões."
Segundo a advogada Norma Kyriakos, os dois devem estar sempre a par de tudo o que diz respeito à administração da empresa.
"Eles não podem ficar dizendo: 'O meu marido é quem controla os negócios' ou 'Minha mulher é quem faz tudo'. O casal precisa se comunicar", diz.
O sócio da Trama, Rui Pereira, aconselha o casal que está se separando a ter calma. "Se você olhar para trás, vai perceber que não vale a pena destruir o que já foi construído", afirma.

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