São Paulo, quarta-feira, 8 de julho de 1998
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A final da Copa

ALBERTO HELENA JR.

Naquela mão santa de Taffarel brilha a quinta estrela dessa singular constelação de conquistas do Brasil no século que se finda. Pois, ontem, foi a final da Copa do Mundo da França. E o vencedor, só por desdita dos fados, deixaria de ostentar a faixa.
Digo isso porque foi o mais emocionante e belo espetáculo de quantos uma competição desse porte pode oferecer aos amantes do futebol.
Uma corrente elétrica cercou o campo desde o momento em que a bola começou a rolar. E as duas equipes se equilibravam sobre aquela linha imaginária e ideal entre o talento de jogar e o empenho em não deixar espaços e tempo ao adversário.
Quando de posse da bola, saía para o ataque, com quatro, cinco e até mesmo seis jogadores. Quando a perdia, voltava e marcava. Isso era o Brasil. Isso era a Holanda.
A diferença estava na forma de fazê-lo. O Brasil preferia, de início, o jogo reto, quase sempre em direção a Ronaldinho, numa tarde-noite de brilho e dedicação próprios de um autêntico campeão.
Os holandeses vinham naquela cadência manhosa, bola de pé pra pé, abrindo o leque, até que Kluivert, em tarde-noite de Ronaldinho inspirado, surgisse para finalizar, sobretudo de cabeça.
E nos pés de um e na cabeça de outro o placar manteve-se na expectativa o tempo todo.
Coube a Ronaldinho, na saída de bola do segundo tempo, acioná-lo. Como coube a Kluivert provocar seu último movimento, no finzinho de um jogo magnífico.
Entre um e outro momento, chances incríveis desperdiçadas de parte a parte.
O fato é que esse era um jogo que não deveria acabar, sobretudo depois da entrada de Denílson, que conferiu à partida o toque de humor que não pode faltar a um espetáculo de gala.
Fomos à prorrogação, e a morte súbita esteve por três vezes aos pés de Roberto Carlos. Por três vezes, ele a renegou.
E, já quando os deuses se apiedavam dos 22 craques em campo, foi decretado o final glorioso.
E haveria de ser nas mãos de Taffarel, um goleiro, que acabaria o impasse entre os dois ataques mais poderosos do mundo.
Nada mais justo e redentor.

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