São Paulo, sábado, 11 de julho de 1998
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Tucanos exploram esquecimento de Lula

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A equipe de campanha do presidente Fernando Henrique Cardoso decidiu explorar ao máximo um esquecimento do candidato PT, Luiz Inácio Lula da Silva, a respeito da estabilidade da moeda.
O petista será retratado como alguém que não tem compromisso com o real. Camisetas e cartazes devem ser produzidos, segundo a Folha apurou, com inscrições que acentuem essa idéia.
A estratégia dos tucanos tem origem na carta-compromisso de Lula. Com 13 pontos, o documento foi divulgado pelo petista no dia de seu primeiro comício nesta campanha, realizado em Brasília na última segunda-feira, dia 6.
A primeira versão da carta-compromisso, veiculada pela Internet, não continha menção ao real.
Durante o comício do dia 6, enquanto ouvia seus aliados discursarem, Lula fez uma revisão dos seus compromissos. E percebeu dois problemas: a falta da menção explícita sobre o real e uma indesejada coincidência entre o seu slogan para educação e o já usado pelo governo FHC.
Ao lado do governador do Distrito Federal, o petista Cristovam Buarque, Lula manuscreveu dois adendos à carta-compromisso. Antes de lê-la, avisou o público sobre as alterações. Em seguida, a nova versão apareceu na Internet, com 14 e não 13 pontos. O texto atual pode ser encontrado no site do PT na Internet: www.pt.org.br.
Embora tenha sido mencionado na nova versão da carta-compromisso, o real não mereceu um ponto exclusivo.
A moeda brasileira foi incluída ao final do último ponto, no qual Lula se compromete a fazer do Brasil "uma nação socialmente justa, segura, digna, soberana".
Em seguida, o candidato do PT abriu um parágrafo e escreveu: "No meu governo, vou garantir a estabilidade monetária, mas também a estabilidade econômica e social". Ao ler o texto, acabou incluindo a expressão "não apenas" antes de "a estabilidade monetária". Essa ressalva não aparece no texto disponível na Internet.
O compromisso extra, que fez subir de 13 para 14 pontos o número de itens da carta de Lula, se refere à educação.
Na versão inicial, o petista prometia "transformar em realidade o sonho de não deixar mais nenhuma criança fora da escola".
Na última hora, Lula percebeu que a expressão de seu documento se assemelhava demais ao slogan usado por FHC no ano passado a respeito de educação fundamental: "Toda criança na escola".
Além disso, Lula notou que essa menção sobre educação estava apenas compartilhando um de seus compromissos a respeito da fome e analfabetismo.
O candidato acabou excluindo a educação desse ponto e transformou-a em um compromisso à parte. Prometeu, se eleito, "a todas as crianças do Brasil um lugar assegurado em uma escola com qualidade".
Para o comando da campanha de FHC, o fato de Lula ter chegado a divulgar uma carta-compromisso sem menção explícita ao real revelaria um ato falho do petista.
O ato falho é uma expressão usada em psicanálise. É o nome que se dá a atitudes espontâneas na qual o indivíduo revelaria sua verdadeira personalidade e intenções.
Para explorar esse aspecto, pessoas que cuidam do marketing de FHC nesta campanha já providenciaram cópias das duas versões da carta-compromisso de Lula -com e sem a defesa do real.
Nesta semana, os dois documentos circularam pelas mãos dos principais coordenadores da campanha tucana.
Na avaliação da equipe de FHC, está mais fácil agora associar a imagem de Lula à expressão "marcha a ré" presente em um dos slogans de FHC ("marcha a ré, não").
Um dos comerciais de TV do tucano mostrará o câmbio de um automóvel. Aparecerão quatro marchas à frente: FHC1, FHC2, FHC3, FHC4. E apenas uma a ré, ilustrada pela estrela do PT.

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