São Paulo, sábado, 11 de julho de 1998
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Ação vende 9,7% mais barato que fabricante

DA REPORTAGEM LOCAL

A Ação Distribuidora de Medicamentos, de Belo Horizonte, chegou a vender o Androcur com preço 9,8% menor do que o preço de custo do remédio para distribuidoras.
O remédio fornecido pela Ação a hospitais mineiros pertencia a um lote falso, o 351, que era ineficaz e acelerou a morte de pacientes com câncer na próstata. A empresa diz que comprou o remédio falso de outras distribuidoras e que é vítima no caso.
O laboratório Schering do Brasil (não confundir com a Schering-Plough), que fabrica o Androcur, vende o remédio com até 18% de desconto para distribuidoras. Seu preço básico é R$ 47,25. Com o desconto, chega a R$ 38,75.
Em uma ocasião, a Ação vendeu 300 caixas do remédio por R$ 35,00. O comprador foi o hospital Hélio Angotti, em Uberaba (MG), que adquiriu 800 frascos do Androcur falso, em fevereiro.
Além das 300 caixas vindas da Ação, outras 500 foram compradas da Dipron Distribuidora de Produtos Oncológicos, de Campinas -essas, por R$ 44,50.
As compras e seus valores estão registradas nas notas fiscais que estão em poder da Vigilância Sanitária de Uberaba.
Em casos de licitação do setor público, o desconto dado pela Schering chega a no máximo 20% -o preço mínimo passa a R$ 37,80. A empresa não pratica os preços de licitação na venda a distribuidoras.
A Ação também vendeu por R$ 40,00 o frasco de Androcur ao hospital Santa Casa de Misericórdia, em Belo Horizonte. Não foi tão barato, mas o medicamento era ineficaz. Entre as caixas de Androcur falso localizadas no hospitais, estavam as vindas da Ação, em fevereiro.
Rede complexa
A Ação diz que comprou o lote falso de outras distribuidoras, mas até o momento as investigações não conseguiram fechar o cerco sobre quem teria colocado o remédio falso nessa rede de repasses.
A PAS Produtos Médicos, Hospitalares e Odontológicos, de Santo André (SP), que aparece na rede, admitiu ontem que fez trocas do medicamento Androcur com duas outras distribuidoras -a Minister, de São Paulo, e a Dipron. As trocas teriam ocorrido há pelo menos três meses.
"A troca de medicamentos entre as distribuidoras era uma prática comum. Agora a gente vai pensar duas vezes antes de trocar medicamentos de novo", afirmou Haroldo Abreu, 40, um dos diretores da PAS.

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