São Paulo, segunda-feira, 13 de julho de 1998
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Algodão ganha espaço na terra da soja

BRUNO BLECHER
ENVIADO ESPECIAL A RONDONÓPOLIS

Depois da soja, é a vez do algodão. Campos repletos de botões brancos começam a mudar a paisagem do cerrado de Mato Grosso, dominada há mais de 20 anos pela monocultura da soja.
Nesta safra (97/98), o algodão cobriu 113,3 mil ha, área 105% maior do que a de 96/97, e a perspectiva para a próxima temporada é ultrapassar 200 mil ha.
A colheita, prevista em 260,1 mil toneladas de algodão em caroço, pode superar a de Goiás, o maior produtor nacional. Goiás plantou mais -166,3 mil ha-, mas as lavouras foram atacadas por uma virose, o que deve reduzir o rendimento.
"Em cinco anos, o Mato Grosso vai se transformar em grande exportador de algodão", prevê o produtor Ignácio Mammana Netto, 68, um dos pioneiros da cultura no cerrado (veja texto ao lado).
Não é exagero. As condições do clima -chuvas regulares durante o plantio e seca na fase de colheita-, e a topografia plana, que facilita a mecanização, favorecem a produtividade das lavouras e a qualidade da fibra.
Em Itiquira (sul do Estado) e Sapezal (norte), o empresário Adilton Sachet está colhendo, em média, 190 arrobas/ha de algodão em caroço. Sachet reservou nesta safra 5.500 dos 18 mil ha que destina às lavouras para o algodão e espera obter lucro líquido de cerca de R$ 500/ha com a cultura.
"Com a soja, o lucro do produtor de Mato Grosso, que conseguiu vender antes da queda dos preços, oscilou entre R$ 130 e R$ 150/ha. Quem está vendendo agora -a saca vale US$ 10-, no máximo está empatando", diz Sachet.
Segundo ele, o custo do algodão é três vezes superior ao da soja, mas o resultado compensa.
A febre do algodão já contaminou todos os grandes produtores do cerrado mato-grossense.
Blairo Maggi, o rei da soja, destinou cerca de 5.000 ha para a cultura. Junto com Sachet, Maggi mantém uma usina de beneficiamento em Rondonópolis.
O empresário Sérgio Marchetti, da Sementes Mônica, plantou 1.800 ha de algodão nesta safra e planeja aumentar a área para cerca de 3.000 ha na próxima.
"O algodão deverá ocupar, no prazo de cinco anos, 1 milhão de ha no Estado, 25% da área plantada com grãos em Mato Grosso", calcula Sachet.
Além da lucratividade, há uma razão agronômica para essa expansão. A monocultura da soja elevou o número de pragas e doenças, impondo a necessidade da rotação de culturas.
"Há áreas no cerrado que hoje são inviáveis para o plantio de soja devido a doenças como o nematóide", diz o produtor Marcelo Mammana.
Como alternativa à soja, os agricultores estavam utilizando o milho. Mas a distância dos grandes centros torna inviável a produção.
"Milho aqui só o governo federal compra e o preço da saca dificilmente ultrapassa R$ 4", diz Christopher Ward, 48, um neozelandês que chegou ao Brasil há 20 anos e desde 1986 planta soja no cerrado de Mato Grosso.
Ward cultiva hoje uma área de 6.500 ha, dos quais 3.900 arrendados. Nesta safra, plantou algodão pela primeira vez (200 ha) e está colhendo 250 arrobas/ha.

LEIA MAIS sobre algodão na pág. 2-4

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