São Paulo, segunda-feira, 13 de julho de 1998
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"Loucura" rende uma safra recorde

DO ENVIADO ESPECIAL

As Ben Pearson, modelo 1973, colheitadeiras que o paulista Ignácio Mammana Netto, 68, chama carinhosamente de "bodes velhos", ao lado das máquinas John Deere, estão trabalhando a todo o vapor na fazenda Jacutinga, em Itiquira (sul de Mato Grosso).
"É uma safra excepcional. Vamos colher cerca de 250 arrobas/ha, o que deve render 95 arrobas de pluma de algodão tipo 6. Ao preço de R$ 28,95 por arroba, vamos chegar à renda bruta de R$ 2.750/ha. Descontado o custo de R$ 1.300/ha pelo algodão já beneficiado, o lucro será de R$ 1.450/ha."
Essa é a oitava safra de Mammana, que foi chamado de louco quando resolveu, em 1990, plantar algodão no cerrado de Mato Grosso.
Antes disso, ele já havia trabalhado com algodão em Goio-Ere, no Paraná, durante as décadas de 60 e 70.
Em 1985, assumiu a presidência da ex-Companhia de Financiamento da Produção (CFP), a atual Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
"Foi quando percebi que o algodão não teria futuro no Paraná, por causa da estrutura fundiária e do bicudo (praga). Tudo era manual, do plantio à colheita, e as terras estavam se exaurindo rapidamente."
Com a ajuda dos filhos (Marcelo e Marcos), Mammana resolveu apostar no cerrado.
Marcelo foi para a Itamarati Norte, em 90, e arrendou uma fazenda vizinha à do empresário Olacyr de Moraes (veja texto abaixo).
O microclima da região, porém, era desfavorável ao algodão. Mammana então arrendou uma fazenda em Itiquira (sul do Estado), pegou o histórico do clima elaborado pela Michelin (fábrica de pneus que mantém um seringal na região) e mandou os dados para análise na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
"Recebi o sinal verde dos pesquisadores e iniciei o plantio de 700 ha em 1991."
Tudo correu bem até 1995, quando ele plantou 2.000 ha, mas as lavouras foram atacadas pela virose.
"É uma desgraça", diz Marcelo. "O pulgão suga o algodão e inocula o vírus, que paralisa o crescimento da planta." A mesma doença agora está comprometendo a produção em Goiás.
Depois do tombo da safra de 95, Mammana reduziu a área para 700 ha e aperfeiçoou seu sistema de manejo de pragas e doenças.
Hoje, ele mantém dois técnicos agrícolas percorrendo as lavouras para identificar e contar o número de pragas. Dependendo do grau de infestação, aplicam-se os agrotóxicos.
"O que pesa mais no custo de produção do algodão são os agrotóxicos e o adubo. Mas, com variedades resistentes e o trabalho dos pragueiros, é possível reduzir despesas", diz o agricultor.
Para Mammana, o algodão tem grande potencial em Mato Grosso. A produção do Estado neste ano, segundo ele, representa economia de US$ 200 milhões em divisas para o país.
"É uma alternativa econômica à soja e também uma excelente opção para a rotação de culturas."
Além da fazenda Jacutinga, de 1.500 ha, a família é proprietária de uma usina de beneficiamento em Rondonópolis, que está processando nesta safra cerca de 600 mil arrobas e tem capacidade para 1 milhão de arrobas.

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