São Paulo, segunda-feira, 13 de julho de 1998
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Klabin está preparada para enfrentar guerra de titãs

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma guerra de titãs está para se iniciar no setor de lenços de papel, guardanapos, toalhas de cozinha e papel higiênico no Brasil. Segundo comenta-se no mercado, a Santher (Fábrica de Papel Santa Therezinha), de São Paulo, está em negociações com a Procter & Gamble para parceria ou venda.
A Klabin, com a parceira Kimberly Clark, está preparada para a disputa, segundo analistas. "A Klabin ganha com a associação. Está melhor equipada para enfrentar a concorrência e acompanha a tendência mundial de fusões e parcerias entre empresas de países diferentes", diz Flávio Conde, analista-chefe do Lloyds Asset Management.
Paulo Fetal, analista do Bozano, Simonsen, também considera a associação positiva. A Kimberly Clark, hoje com 50% da Klabin Tissue, integralizou aumento de capital de US$ 115 milhões. O dinheiro injetado foi usado para o pagamento de US$ 84 milhões da dívida da Tissue com a Klabin, a holding listada em Bolsa.
Os US$ 31 milhões restantes permanecem em caixa por enquanto, "mas serão oportunamente usados em modernizações, eliminação de gargalos e aumento de produtividade nas cinco plantas da Tissue", diz Fetal.
Josmar Verillo, diretor-geral da Klabin, não descarta o aumento da capacidade da Tissue por intermédio de investimentos nas fábricas atuais, novas fábricas ou até aquisições. "A Klabin Tissue está preparada para crescer."
A necessidade de crescimento da produção é óbvia. Hoje, sobram apenas 4% da produção da Klabin Tissue para exportação, ou 1.800 toneladas por mês.
A partir de agora, a Klabin Tissue passará a produzir produtos com as marcas da Kimberly Clark, como a Kleenex, que estavam licenciadas à Melpaper até junho. Precisará de mais capacidade. Segundo Verillo, o investimento necessário em uma fábrica que produza 60 mil toneladas por ano seria de US$ 96 milhões.
O mercado de papel para higiene cresce 5% ao ano em volume, segundo estima Verillo. Ele prevê crescimento dessa ordem neste ano, mas não se arrisca a falar em números sobre o comportamento dos preços.
No primeiro trimestre do ano, os resultados da holding Klabin foram afetados pelo tombo nos preços médios, principalmente da celulose, papel higiênico e papelão ondulado. Só o preço do papel de embalagem subiu (7%).
A crise asiática reduziu a demanda e derrubou ainda mais os preços internacionais da celulose, que chegaram ao pico de baixa no primeiro trimestre deste ano.
A Bacell, controlada da Klabin que produz celulose solúvel, usada em fibras têxteis, contribuiu fortemente para derrubar o volume de vendas da holding, que teve prejuízo líquido consolidado de US$ 7 milhões nos primeiros três meses de 98.
A Bacell, sozinha, teve prejuízo de US$ 9,8 milhões no período. A greve no porto de Aratu, na Bahia, ajudou, pois 90% da produção da empresa é exportada. Em 96, seu primeiro ano de operação, a Bacell amargou prejuízo de US$ 22,5 milhões. A austríaca Lenzing, sócia estratégica da Klabin na Bacell, quer vender sua participação. Verillo diz procurar novo sócio estratégico para injetar não só recursos, mas acrescentar mercado e know-how à empresa.
Segundo ele, os sócios da holding Klabin não desejam se desfazer da Bacell. Mas ele não descarta a venda de uma parte da participação, de 56%. "A Bacell começou a operar em um momento difícil, de queda nos preços da celulose. Deve ser completamente reestruturada e evoluir para produzir, por exemplo, celulose especializada, usada na produção de pneus, filtros de cigarros e filtros de papel", diz Verillo. A celulose solúvel tem sofrido concorrência forte dos produtos petroquímicos.
Verillo acredita que os preços internacionais da celulose devem continuar a rota de alta iniciada em abril, com impacto positivo nos preços do papel. "A queda de preços não começou em 97, com a crise asiática, mas há três anos, com o excesso de oferta. Os preços caíram 30% no período. As fábricas menos eficientes estão todas fechando. Na Ásia, investimentos deixaram se ser realizados. A procura começa a superar a oferta."
Fetal, do Bozano, Simonsen, concorda. Ele prevê preços de US$ 600 a US$ 615 a tonelada no final do ano, contra os US$ 560 de junho. E recomenda a compra das ações da Klabin. Conde, do Lloyds Asset Management, diz que a perspectiva para a Klabin neste ano "é favorável".
Para Fetal, a Klabin está confortável com a dívida de 69% do patrimônio líquido. Verillo concorda. "A dívida cresceu muito por causa de investimentos de R$ 210 milhões nos últimos dois anos. Mas ela não preocupa, visto que 80% são de longo prazo."

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