São Paulo, segunda-feira, 13 de julho de 1998 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Futebol mundial vive a sua 'revolução francesa'
HUMBERTO SACCOMANDI; JOSÉ GERALDO COUTO; JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
Um francês, Jules Rimet, inventou a Copa do Mundo, disputada pela primeira vez em 1930. Levou 68 anos para que uma seleção francesa conquistasse o título máximo do futebol mundial. "Foi o dia mais importante da história do esporte francês." Assim foi saudado o técnico da seleção, Aimé Jacquet, antes de sua primeira entrevista como campeão mundial. A festa da vitória deve agora se prolongar até amanhã, 14 de julho, dia da queda da Bastilha e que marca o início da Revolução Francesa, em 1789. É o feriado nacional do país. Agora é o futebol mundial que tem a sua revolução francesa. A vitória acabou com um trauma de três semifinais perdidas pelos franceses, que havia décadas aguardavam o salto de qualidade. Desde 1978, na Argentina, a seleção do país anfitrião não levava o título. Ao todo, seis seleções foram campeãs jogando em casa. Nesta Copa, a seleção francesa teve ainda uma curiosa característica: foi responsável pela eliminação de três técnicos brasileiros: Zagallo (Brasil), Carpegiani (Paraguai) e Parreira (Arábia Saudita). O time francês chegou perto do título pela primeira vez em 1958, quando foi derrotado na semifinal pelo Brasil. Perdeu, mas colocou na história o até hoje goleador máximo de uma Copa, Just Fontaine, com 13 gols. Em 1982, perdeu também na semifinal, desta vez para a Alemanha. Novamente a Alemanha, em 86, poria fim aos sonhos da geração capitaneada pelo meia Platini. A conquista de ontem, pela terceira grande geração francesa, tem um herói: o meia Zinedine Zidane, de origem argelina, autor dos dois primeiros gols contra o Brasil, ambos de cabeça. Esta foi a seleção francesa com maior número de jogadores (13 dos 22) nascidos no exterior ou de origem estrangeira. A taça de campeão foi entregue ao capitão do time, Didier Deschamps, pelo presidente francês, Jacques Chirac, que usava um cachecol tricolor (azul, vermelho e branco) típico de torcedor. Ele tinha recebido uma camisa número 23 dos jogadores, que acabou não sendo usada. Platini, que presidiu o comitê organizador da Copa, foi menos formal e vestiu a camisa da seleção, por baixo do paletó. "Entramos para ganhar, não só para ser finalistas", disse. Alçado pelos jogadores após a vitória, o demissionário Jacquet levantou a taça para a torcida, em meio a uma multidão de jogadores, seguranças, fotógrafos e câmeras. A festa francesa foi celebrada ao som da trilha sonora do filme "Guerra nas Estrelas" e da canção "We Are the Champions", do grupo britânico Queen. Curioso para o país da francofonia, tradicionalmente avesso ao inglês e ao cinema hollywoodiano. Apesar da música, o time comemorou à francesa no vestiário, com champanhe, nacional claro. Ao final do jogo, técnico e jogadores agradeceram a torcida, que vinha sendo criticada até a semifinal pela falta de entusiasmo. Foi somente com a vitória sobre a Croácia que o público francês finalmente mergulhou no clima da Copa. "Há alguns dias, toda a França ficou conosco. Essa força e generosidade do público estão retribuídas", disse Jacquet. O público cantou a Marselhesa, o hino francês, três vezes ao longo da partida. Antes, aos 27min do segundo tempo, quando a equipe era pressionada pelo Brasil, e durante a volta olímpica. Texto Anterior: Brasil perdeu primeira final em 50 Próximo Texto: Jacquet pode deixar comando da seleção Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |