São Paulo, segunda-feira, 13 de julho de 1998
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Copa faz ponte para século 21

ROGÉRIO SIMÕES
ENVIADO ESPECIAL A SAINT-DENIS

Campeão inédito, revelação da Croácia e aparição de jovens talentos sugerem feição 'globalizada' do futebol no futuro

Depois de 33 dias, 64 jogos e um total de 171 gols marcados, a Copa-98 venceu seu maior desafio: fazer a ponte com o século 21.
No momento em que o jovem inglês Michael Owen, 18, seguiu com a bola dominada para marcar um dos mais belos gols do Mundial, contra a Argentina, veio a certeza de que o futebol já tem uma nova geração para ser admirada no próximo milênio.
A vitória francesa reforça a idéia de renovação. Vinte anos depois que os argentinos ergueram a taça em Buenos Aires, um novo país entra para o restrito grupo dos campeões mundiais. E o nome de Zinedine Zidane ainda vai ecoar por muitos clássicos internacionais, incluindo o primeiro Mundial asiático, em 2002.
Como um verdadeiro espelho do novo mapa deste final de século 20, a Copa da França abriu suas portas para seleções emergentes e teve como terceira colocada a Croácia, um país de apenas sete anos de existência que ainda se recupera de um conflito armado.
A conquista croata, com o artilheiro Suker, é prova de que, apesar da força dos considerados grandes do futebol, há espaço para novos ídolos, novos times e novas torcidas no âmbito do esporte mais popular do planeta.
Depois de oito anos, o Mundial voltou à Europa, centro dos campeonatos milionários, onde atuam os principais astros da atualidade. Mas, apesar do clima de festa para todos os europeus, os conflitos entre torcidas voltaram a assustar público e autoridades, como já havia ocorrido em 90, na Itália.
Os hooligans ingleses aterrorizaram a cidade de Marselha quando a sua seleção estreou na competição, contra a Tunísia. Torcedores alemães, dias depois, travaram batalhas com a polícia em Lens, deixando em coma o policial francês David Nivel, 44.
Ainda do lado de fora, torcedores brasileiros e japoneses, entre outros, lutaram contra a desorganização na distribuição de ingressos, que deixou milhares de pessoas do lado de fora dos estádios.
Dentro de campo, a cansativa maratona de mais de um mês de duração comprovou que África e Ásia, favorecidos com a ampliação do número de equipes de 24 para 32, ainda têm muito a aprender.
Mesmo os nigerianos, com seu futebol descontraído, demonstraram deficiências graves e pouca maturidade na derrota contra a Dinamarca.
As outras seleções dos dois continentes "pequenos" serviram de figuração numa primeira fase de mais contrastes do que grandes clássicos.
As arbitragens de um Mundial geralmente são esquecidas rapidamente. No caso da Copa-98, a atuação dos árbitros, pressionados a adotar o rigor contra a violência, tem ser lembrada como uma das mais irregulares e polêmicas, principalmente na marcação de pênaltis.
Na reta final, emocionantes partidas na série "mata-mata" garantiram a qualidade da competição.
Os três gols franceses na grande decisão, que elevaram a média da competição para 2,67 por partida, coroaram uma Copa do Mundo contagiante, diferente das duas últimas. Sinal de que vale esperar por mais quatro anos para mais uma festa de futebol.

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