São Paulo, segunda-feira, 13 de julho de 1998
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O SONHO DO PT

O PT acaba de apresentar ao eleitorado as linhas gerais de seu programa, documento que, como se sabe, é sempre uma exposição sumária dos objetivos de um partido e, na, prática, dificilmente pode ser algo além de uma carta de intenções que raramente se transforma em ação.
No entanto, o caso dessa carta de intenções petistas é ainda pior. Ainda não há uma palavra sobre como um eventual governo de Luiz Inácio Lula da Silva vai financiar os grandes benefícios que prometeu.
Nenhum país se faz apenas com planos econômicos, mas a economia é, mais do que de costume, uma questão crucial para o governo que vai tomar posse em 1999. Além de crucial, é terrivelmente complexa e delicada, ainda mais para o PT, que, é impossível negar, não conta com a simpatia e a confiança de investidores daqui e de alhures.
As promessas do PT pressupõem que as contas do Estado estejam em ordem, que o país não dependa de capital externo ou que este obedeça às vontades do governo brasileiro, que é o que está por trás da expressão "rever a inserção subordinada do país na economia internacional".
O PT pode até dizer que o programa de reforma econômica de FHC fez com que a inflação baixa dependesse de capital externo cevado a juros altos. Correta ou não, a crítica não vai anular o fato de que esse é o país que um eventual governo Lula herdaria. De resto, sempre dependemos de capital externo e assim vamos continuar por muito tempo; o Brasil é dependente e periférico, como bem sabe qualquer economista do PT, e não vai mudar até janeiro de 1999.
E não é só. O Estado é deficitário, em grande parte devido aos juros altos, mas também por causa de um sistema tributário injusto e defeituoso. Para se tornarem realidade, as promessas do PT dependem, por exemplo, de reformas difíceis, como a tributária, sinônimo de transferências de renda, reformas que FHC não fez nem com sua "maioria instável". Isso para não falar de como resolver a terrível equação que é atrair capital impondo-lhe restrições.
Faltam, pois, uma fórmula econômica e meios políticos ao partido de Lula. Sem isso, tudo não passará de sonhos, mais ou menos ingênuos.

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