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"Itália está à beira de um colapso", afirma o diretor Marco Bellocchio

36ª MOSTRA DE SP
Cineasta usa caso real de eutanásia do país no filme "A Bela Que Dorme"

Drama com Isabelle Huppert gira em torno da comoção por causa da morte da jovem Eluana Englaro, em 2009

Divulgação
Cena de "A Bela Que Dorme", do italiano Marco Bellocchio
Cena de "A Bela Que Dorme", do italiano Marco Bellocchio

RODRIGO SALEM
ENVIADO ESPECIAL A VENEZA

Um pai decide desligar os aparelhos que mantêm a filha viva, apesar de ela encontrar-se em coma há 17 anos.

O caso geraria um estardalhaço em qualquer país, mas na Itália, uma nação enraizada profundamente no catolicismo, a atitude virou um debate nacional que envolveu política, religião, economia e decisões ética extremas.

A comoção em torno da eutanásia de Eluana Englaro, em 2009, também atraiu o olhar do cineasta Marco Bellocchio, um dos principais diretores italianos da atualidade e um constante estudioso da sociedade de seu país.

No seu novo filme, "A Bela Que Dorme", que passa hoje na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, Bellocchio aproveita-se do caso não apenas para discutir a decisão de vida e morte.

Ele debate a situação da Itália moderna, um país que sofre com a crise financeira e com a apatia política iniciada durante a gestão do primeiro-ministro Sílvio Berlusconi, em 1994, e que ainda cobra dívidas -Berlusconi foi condenado ontem a quatro anos de prisão por fraude.

"Pensei em contar várias histórias no filme para não apenas registrar a época, mas também para passar a ideia de espaço físico na Itália", conta o diretor, que usa Roma, Udine, Toscana e Nápoles como cenário.

"Mas não queria fazer uma tese ou provar algo. Isso veio de forma natural."

"A Bela Que Dorme" tem várias linhas narrativas. Um médico (Pier Giorgio Bellocchio, filho do cineasta) tentando salvar uma viciada suicida (Maya Sansa); uma jovem (Alba Rohrwacher) que apaixona-se por um militante (Michele Riondino) contrário a suas ideias pró-vida.

Há também uma atriz famosa (Isabelle Huppert) que vira-se para a religião quando sua filha entra em coma.

Mas é na trama do senador (Toni Servillo) que deseja votar contra seu partido na questão da eutanásia que o filme tem seus melhores momentos, discutindo a infiltração religiosa na política italiana.

"Os católicos estão em toda parte. Há um declínio na adesão à religião, mas há um aumento no poder político dos católicos. E isso não reflete mais a maioria de nosso povo", discursa Bellocchio.

Servindo como o olhar do povo, o psiquiatra interpretado pelo ótimo Roberto Herlitzka trata dos senadores e solta pérolas à beira de uma piscina grotesca que revelam o perigo da idiotice dos homens do poder em Roma.

"Estamos à beira de um colapso econômico, político e financeiro. É um terreno fértil para o surgimento de ditadores. Foi assim com Hitler, Mussolini e Franco. Isso me preocupa", conclui Bellocchio.

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