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Crítica drama Longa sobre eutanásia revela embate entre tradições religiosas e familiares INÁCIO ARAUJOCRÍTICO DA FOLHA Para Marco Bellocchio o que está no centro, desde o início, é a família. Ali estão o amor e a disfunção, tudo que é motivo de dor ou de gozo neste mundo. Mesmo quando o tema é a eutanásia. No caso de "A Bela que Dorme" trata-se de seguir o caso (real) de Eluana Englaro, que viveu 17 anos em estado vegetativo, em seus últimos dias. Estamos na Itália, e a comoção é tão grande quanto as dúvidas sobre o direito de desligar seus aparelhos: lá é o centro do catolicismo, portanto o lugar mais sensível à alegação de que a vida é intocável. Nesse quadro, Bellocchio introduzirá algumas histórias. A primeira diz respeito a um senador chamado a votar sobre o direito ou não à eutanásia. Seu partido exige o voto a favor. Do outro lado, no entanto, está sua filha, Maria, que combate a eutanásia com todas as forças. A segunda história diz respeito a dois irmãos. Um deles, visivelmente desequilibrado, joga um copo de água em Maria, para manifestar seu repúdio aos antiabortistas. O gesto propiciará a aproximação entre o outro irmão, o equilibrado (responsável pelo primeiro) e Maria. Aproximação amorosa, entenda-se. A terceira nos leva até Divina Madre (Isabelle Huppert), ex-atriz que abandonou a carreira para se dedicar à filha morta-viva. Fez de sua casa um templo mortuário. Há, por fim, um médico sem ligações profundas e uma suicida também sem elos aparentes com o mundo. O médico vai se dedicar à moça de forma quase patológica. O desenrolar das tramas demonstrará até que ponto, para Bellocchio, a família é o fundamento de tudo, o nó a partir do qual todas as demais relações se tecem. Mesmo, em certos casos, por sua ausência, é ela que propiciará esses encontros que levarão à formação de novos laços. E é uma imagem que pode resumir o peso deste novo Bellocchio: o senador segurando o corpo morto de sua mulher, que lhe pedira para morrer. Uma Pietà e tanto para coroar este magnífico filme.
A BELA QUE DORME |
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