São Paulo, segunda-feira, 01 de fevereiro de 2010

Próximo Texto | Índice

Crítica/"A Todo Volume"

Documentário transforma lendas da guitarra em fãs

Jack White, Jimmy Page e The Edge falam sobre a importância do instrumento

Divulgação
Jack White (esq.), Jimmy Page (centro) e The Edge, estrelas do filme de David Guggenheim

DO CRÍTICO DA FOLHA

Há um momento antológico em "A Todo Volume", que parece sintetizar todo o filme: Jimmy Page, 66, guitarrista do Led Zeppelin, pega sua surrada Gibson Les Paul e começa a tocar a introdução de seu clássico "Whole Lotta Love", enquanto The Edge, 48, guitarrista do U2, e Jack White, 34, guitarrista do White Stripes, olham embevecidos, como se estivessem na presença de uma divindade. Nesse momento, esses dois popstars multimilionários se transformam em simples fãs.
"A Todo Volume" é isso: um filme sobre três fãs de música que são, também, três dos guitarristas mais influentes dos últimos 40 anos. O documentário, dirigido por David Guggenheim ("Uma Verdade Inconveniente"), junta três músicos de diferentes gerações para falar sobre a importância da guitarra elétrica, mas acaba sendo um testemunho do poder transformador da música.
A escolha dos entrevistados foi perfeita. Jimmy Page escreveu o cânone dos riffs de rock durante seu tempo no Led Zeppelin, nos anos 60 e 70; The Edge firmou-se como um dos grandes experimentadores sônicos dos anos 80 e 90, e Jack White, um dos maiores nomes do rock nos anos 2000, é um tradicionalista, cultor da velha geração de blueseiros norte-americanos.
Cada um conta sua história e fala de suas influências. E são os momentos mais íntimos que realmente emocionam: Jimmy Page aparece em sua sala de estar, colocando um disco na vitrola e delirando com o eco da guitarra de Link Wray em "Rumble". The Edge anda por Dublin e fala de sua paixão pelo punk rock de Ramones, The Jam e The Clash. Jack White conta como o blues de Son House, Blind Willie Johnson e Robert Johnson mudou sua vida, e dá a devida importância a grupos pouco falados como Cramps e Flat Duo Jets.
O filme é costurado com sensacionais cenas de arquivo. Vemos Jimmy Page, ainda adolescente, sendo entrevistado na TV inglesa; The Edge e o U2 são mostrados em seus primeiros ensaios, e os bluesmen prediletos de Jack White aparecem em granuladas imagens em preto e branco, feitas há quase 80 anos. "A Todo Volume" é um delírio para os olhos e/ou ouvidos.

(ANDRÉ BARCINSKI)
Avaliação: bom



Próximo Texto: Crítica/"Tyson": Filme sobre boxeador mostra contradições do ser humano
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.