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São Paulo, terça-feira, 01 de julho de 2003

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CINEMA

Centro Cultural São Paulo recebe extensa retrospectiva da carreira de Reginaldo, Roberto, Lui e Mauro Farias

Clã Farias apresenta meio século nas telas

13.jul.1962/"Última Hora"
Cena de "Assalto ao Trem Pagador" (62), de Roberto Farias, um marco do gênero policial brasileiro


JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

A carreira cinematográfica da família Farias -os irmãos Reginaldo e Roberto e os filhos deste, Lui e Mauro- ganha uma extensa retrospectiva a partir de hoje no Centro Cultural São Paulo.
Só a filmografia do diretor e produtor Roberto Farias, 70, já valeria por um apanhado do cinema brasileiro dos últimos 50 anos. Tendo começado como assistente de direção em chanchadas da Atlântida, dirigiu seus dois primeiros longas dentro desse gênero: "Rico Ri à Toa" (1957) e "No Mundo da Lua" (58). Em seguida, enveredou pelo policial com "Cidade Ameaçada" (59) e o clássico "Assalto ao Trem Pagador" (62), um marco do gênero no Brasil.
Com "Selva Trágica" (64), denúncia do trabalho escravo em latifúndios do Brasil central, aproximou-se da plataforma de crítica social do cinema novo.
Depois disso, fez três filmes estrelados por Roberto Carlos, buscando uma linguagem pop para aproximar-se do público jovem, um pouco na cola das comédias malucas que Richard Lester realizou com os Beatles. Já nos estertores do regime militar, dirigiu o drama político "Pra Frente Brasil" (81). Por fim, fez um dos melhores filmes da turma de Renato Aragão, "Os Trapalhões no Auto da Compadecida" (87).
O que há em comum entre esses trabalhos aparentemente tão díspares? Duas coisas: o desejo de comunicação com o púbico e o domínio da narrativa clássica do cinema. É uma filmografia extremamente permeável ao "espírito do tempo", revelando as transformações nas condições sociais, no humor e nos costumes do país.
Os filmes com Roberto Carlos, por exemplo, com sua breguice inigualável, seus roteiros sem pé nem cabeça, falam mais sobre a juventude dos anos 60 que as sisudas alegorias do cinema novo.
A mesma variedade de gêneros e a mesma comunicação direta com o público marcam o trabalho do ator -e também diretor- Reginaldo Farias, 65.
Muito antes de se tornar galã de telenovelas, Reginaldo havia transitado no cinema entre comédias de costumes como "Toda Donzela Tem um Pai que É uma Fera" (66), policiais como "Assalto ao Trem Pagador" e dramas existenciais como "Porto das Caixas" (de Paulo Cezar Saraceni).
Competente tanto no registro cômico como no épico ou no dramático, Reginaldo teve talvez seu desempenho mais marcante no papel-título de "Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia" (1977), de Hector Babenco.
Como diretor, se não chegou a revelar um estilo próprio, mostrou um artesanato seguro, sobretudo em comédias eróticas (ingênuas hoje) como "Os Paqueras" (1968) e "Os Machões" (1973), embora tenha experimentado o horror cômico (em "Quem Tem Medo de Lobisomem?", de 1974) e o drama policial social (em "Barra Pesada", de 1977).
Os irmãos Lui e Mauro, segunda geração do clã Farias, tiveram o azar de começar a fazer cinema numa época em que o setor estava em crise no país (virada dos anos 80 para os 90), o que os impediu de ter a mesma produtividade da geração anterior.
Ainda assim, realizaram longas interessantes como sintomas de época. Curiosamente, tanto o drama "Com Licença, Eu Vou à Luta" (Lui Faria, 1986) como a comédia "Não Quero Falar sobre Isso Agora" (Mauro Farias, 1991) tratam de jovens buscando espaço para sua auto-afirmação.
Amanhã, às 19h30, três membros da família Farias -Roberto, Reginaldo e Lui- falarão ao público no CCSP.


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