São Paulo, quinta-feira, 01 de julho de 2004

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DANÇA EM PAUTA

Companhias nacionais e internacionais dividem o palco do projeto no Centro Cultural Banco do Brasil

Ciclo é marcado por pluralidade de enfoques

Divulgação
Cena da coreografia "M - Uma Peça Mediana", de Maria Clara Villa-Lobos, apresentada no ciclo


INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

Mestiçagem das linguagens, influência de diversas artes, ressonâncias de teorias. Com nova cara, o Dança em Pauta 2004 recebe artistas de outros países e promove a experimentação de criadores independentes. O programa teve início em 17/6 e vai até 11/7, no CCBB, com curadoria de Ana Francisca Ponzio.
Até agora o que se viu foram propostas e resultados distintos. Se de um lado a pluralidade de enfoques é uma riqueza, de outro o que se pode dizer é que a qualidade dos resultados nem sempre correspondeu à expectativa.
A temporada abriu com "M -Uma Peça Mediana", de Maria Clara Villa-Lobos, com o grupo XLProduction. Humor e ironia marcam a cena onde o pré-fabricado e o repetitivo são postos em foco, para questionar a cultura de massa e sua internalização na vida subjetiva de cada um de nós.
Em "O Bandido", de Jussara Miranda, a movimentação é cheia de detalhes, estilizada e bem desenvolvida. Pergunta: ao tentar definir as características emocionais e comportamentais numa ação teatral, será que Miranda não limitou demais seu âmbito? A expectativa em relação à trama amorosa, entre "um bandido, o sargento que o procura e a uma prostituta", sugere processos que acabam não chegando a termo.
Em "Espaço - Estudo 2", de Angela Nolf e Deborah Furquim, linhas, fluxos, densidade e freqüência dão a tônica do espetáculo, que se completa no vídeo ao fundo. As intérpretes são fortes e tecnicamente seguras; porém o espetáculo corre o risco de cair num branco, sem tensão. Parece mais um fino exercício do que propriamente um espetáculo -o que talvez seja parte do sentido.
Muito mais problemático é "Por Quién Lloran Mis Amores", de Tino Fernández, interpretado por Marvel Benavides. Em cena estão 250 copos de vidro, em meio dos quais acontece a dança. A coreografia trabalha "mistérios e intimidades" de uma mulher, com expressões exageradas do rosto e técnica que deixa a desejar.
Para fechar essa primeira parte da programação, o Grupo de Rua de Niterói apresentou "Too Legit to Quit", "Eu e Meu Coreógrafo no 63" e "Do Popping ao Pop e Vice-Versa", de Bruno Beltrão. Ingenuidade, humor e virtuosismo corporal perpassam toda a seqüência. Nas duas primeiras peças, a sofisticação dos gestos se contrapõe aos cartazes ou ao som da conversa de amigos, numa crítica (um tanto pueril) a valores e dificuldades cotidianas.
"Do Popping..." explora com outro engenho a construção coreográfica. Estados internos (angústia, indecisão etc.) se tornam visíveis sem som nem palavras. O cuidado com detalhes, da luz ao gesto, cria uma narração instigante de possibilidades e impossibilidades, face aos conflitos diários.
A dança agora continua em pauta na cidade, com espetáculos de Emilie Sugai (reflexões sobre o "mundo materialista e dessacralizado"); Lu Brites (o que há de "selvagem e domesticável no indivíduo"); Letícia Sekito (as relações com a cultura japonesa); e Beth Risoléu, dançando coreografia de Lau Delgado (inspirada na obra de Camille Claudel). Outra seleção muito diversa de nomes, com trabalhos de câmara, que representam bem a grande pequena dança de São Paulo


Dança em Pauta
  
Onde: CCBB (r. Álvares Penteado, 112; tel. 3113-3651)
Quando: até 11/7; de qui. a sáb., às 20h; dom., às 19h
Quanto: de R$ 5 a R$ 10



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