São Paulo, quarta-feira, 01 de setembro de 2010

Próximo Texto | Índice

Pedro Costa é tema de mostra em São Paulo

CCBB começa hoje retrospectiva da obra completa do diretor português

Cineasta vem ao Brasil para um debate; "Poder encontrar-me com o público agrada-me muito", diz o artista


DE SÃO PAULO

O diretor português Pedro Costa, 51 anos, fala da maneira como filma. Sua conversa é daquelas sem pressa. Seu ouvido é daqueles dispostos a partilhar, com o interlocutor, mais dúvidas do que certezas. É também assim o cinema que o público poderá ver a partir de hoje no Centro Cultural Banco do Brasil.
A retrospectiva de sua obra, com dez filmes, será acompanhada de um debate com o cineasta e trará, ainda, quatro títulos por ele escolhidos -"Gente da Sicília", de Jean-Marie Straub e Danièle Huillet, e "Beauty #2", de Andy Warhol, entre eles.
"Essas retrospectivas são sempre muito fortes", diz, por telefone, de Lisboa. "Ter a possibilidade de encontrar-me com o público agrada-me muito."
Costa é daqueles cineastas que, a despeito dos elogios da crítica e das homenagens aqui e acolá, custa a chegar ao público. Traria isso algum tipo de ressentimento?
"O sentimento que tenho em relação a isso é pontual", responde.
"Por vezes, entristece-me saber que meus filmes poderiam ser vistos por mais gente, mas não são. Por outro lado, o cinema que venho fazendo pertence às comunidades onde ele se dá. A própria comunidade é produtora, público e crítica."
Ele refere-se à comunidade das Fontainhas, em Lisboa, reduto de imigrantes cabo-verdianos. Afastado, desde "No Quarto da Vanda" (2000), do sistema tradicional de produção, Costa transforma os próprios moradores em atores e colaboradores.
"A maneira tradicional de estar no set não me servia mais", diz. "Tive de operar um corte total no meu cinema para continuar a ver algum sentido no que fazia".

BIENAL
Distante do cinema que veste black-tie, Costa reencontrou marcas desse "sistema" ao aproximar-se da arte. Após passar pela Tate Gallery, ele estará na Bienal de São Paulo. Mas não sem algum desconforto. "É um mundo política e socialmente muito diferente do meu."
Se aceita os convites é para tornar mais visíveis seus filmes. "Mas não levo muito a sério essa história. Os cineastas, quando vão para museus, costumam se aproveitar de restos. Isso tudo tem um quê de brincadeira de criança." (ANA PAULA SOUSA)


Próximo Texto: Opinião: Cineasta procura a verdade no silêncio e na meditação
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.