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Pedro Costa é tema de mostra em São Paulo
CCBB começa hoje retrospectiva da obra completa do diretor português
Cineasta vem ao Brasil para um debate; "Poder encontrar-me com o público agrada-me muito", diz o artista
DE SÃO PAULO
O diretor português Pedro
Costa, 51 anos, fala da maneira como filma. Sua conversa
é daquelas sem pressa. Seu
ouvido é daqueles dispostos
a partilhar, com o interlocutor, mais dúvidas do que certezas. É também assim o cinema que o público poderá
ver a partir de hoje no Centro
Cultural Banco do Brasil.
A retrospectiva de sua
obra, com dez filmes, será
acompanhada de um debate
com o cineasta e trará, ainda,
quatro títulos por ele escolhidos -"Gente da Sicília", de
Jean-Marie Straub e Danièle
Huillet, e "Beauty #2", de
Andy Warhol, entre eles.
"Essas retrospectivas são
sempre muito fortes", diz,
por telefone, de Lisboa. "Ter
a possibilidade de encontrar-me com o público agrada-me
muito."
Costa é daqueles cineastas
que, a despeito dos elogios
da crítica e das homenagens
aqui e acolá, custa a chegar
ao público. Traria isso algum
tipo de ressentimento?
"O sentimento que tenho
em relação a isso é pontual",
responde.
"Por vezes, entristece-me
saber que meus filmes poderiam ser vistos por mais gente, mas não são. Por outro lado, o cinema que venho fazendo pertence às comunidades onde ele se dá. A própria comunidade é produtora, público e crítica."
Ele refere-se à comunidade das Fontainhas, em Lisboa, reduto de imigrantes cabo-verdianos. Afastado, desde "No Quarto da Vanda"
(2000), do sistema tradicional de produção, Costa transforma os próprios moradores
em atores e colaboradores.
"A maneira tradicional de
estar no set não me servia
mais", diz. "Tive de operar
um corte total no meu cinema para continuar a ver algum sentido no que fazia".
BIENAL
Distante do cinema que
veste black-tie, Costa reencontrou marcas desse "sistema" ao aproximar-se da arte.
Após passar pela Tate Gallery, ele estará na Bienal de
São Paulo. Mas não sem algum desconforto. "É um
mundo política e socialmente muito diferente do meu."
Se aceita os convites é para
tornar mais visíveis seus filmes. "Mas não levo muito a
sério essa história. Os cineastas, quando vão para museus, costumam se aproveitar de restos. Isso tudo tem
um quê de brincadeira de
criança."
(ANA PAULA SOUSA)
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