São Paulo, quarta-feira, 01 de setembro de 2010

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OPINIÃO

Cineasta procura a verdade no silêncio e na meditação

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Quem esperar muito movimento deve procurar outra sala. É no silêncio e na meditação que se faz o cinema do português Pedro Costa, homenageado a partir de hoje com uma retrospectiva no CCBB. O documentário francês "Reflorescer", feito durante a filmagem de "Juventude em Marcha", ilustra bem o método de trabalho do cineasta: nenhum roteiro preparado, mas um trabalho infatigável de repetições.
Seus "takes" com o imigrante Ventura, no caso, repetem-se inúmeras vezes. Em seguida, na sala de montagem, Costa reflete, observa, descarta algumas das tomadas, retém outras. No entanto, a câmera pouco se move. Um momento, bem significativo: Ventura, imigrante em Portugal, declama uma carta de amor à mulher que deixou na então colônia.
O que pode significar isso, tanto tempo depois? Ou o que pode significar a luta de Mariana, em "Casa de Lava" (1994) para salvar um homem à beira da morte? A pergunta é bem pertinente: o que quer dizer toda a agitação humana? Por que existe? Essas questões talvez justifiquem a aproximação que se faz entre o cinema de Costa e a obra de Samuel Beckett.
Alguma proximidade existe de fato, como a ênfase que Costa dá ao sentimento que ocupa cada um de seus planos, bem mais do que às histórias que conta. Mas Pedro Costa sabe também que seu trabalho é bem particular. Por um lado, trata-se de recusar a preparação prévia representada pelo roteiro, mas não aceita a improvisação.
Costa não aceita que seus filmes sejam vistos como documentários, na medida em que a verdade dos personagens não vem de um reencontro com os fatos de sua vida, mas com o trabalho sobre uma sensibilidade.


O CINEMA DE PEDRO COSTA

ONDE Centro Cultural Banco do Brasil, R. Álvares Penteado, 112, Centro, tel. 0/XX/11/3113 3651
QUANDO 1º a 12 de setembro, de quarta a domingo
QUANTO R$ 4




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